Título: Controle de gastos com obras não vai longe, diz analista
Autor: Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2011, Brasil, p. A3

Reduzir ou cortar os investimentos é o único ajuste fiscal que o governo federal pode fazer. E, mesmo assim, o ajuste tem data de validade. A avaliação é de Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Segundo Montero, a política de corte de gastos implementada pelo governo Dilma Rousseff desde o início do ano atinge fortemente os investimentos, que são um dos poucos itens "não engessados" do Orçamento, diferentemente dos gastos com salários de funcionários públicos, transferências à Estados e municípios e despesas com benefícios previdenciários. No entanto, com a perspectiva de grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, além da necessidade de obras de infraestrutura energética, a redução dos investimentos pode não durar mais que um ano.

"O atual governo foi eleito com uma plataforma de investimentos em infraestrutura, de grandes hidrelétricas e obras de construção civil, e o mandato de Dilma terminará no ano em que se realizará a Copa, então é impensável imaginar que o ritmo dos investimentos poderá ser lento por muito tempo", diz Montero, para quem, no entanto, o "ajuste fiscal possível", ao menos em 2011, está cumprindo o prometido. "O governo prometeu um superávit primário mais elevado neste ano, e, ao menos no primeiro semestre, cumpriu o prometido."

De acordo com o Banco Central, o setor público consolidado - que engloba governo central, Estados e municípios e estatais - cumpriu um superávit primário de 4,03% do Produto Interno Bruto no acumulado até maio deste ano - a meta do governo é uma economia de 2,9% no ano.

Nos primeiros cinco meses do ano, os investimentos aumentaram apenas 1,1%, em termos reais, na comparação com igual período do ano passado, enquanto as despesas com custeio aumentaram 9,1% na mesma comparação.

Segundo técnicos da área econômica do governo, a redução no ritmo dos investimentos neste início de ano decorre principalmente das dificuldades para implementar novas inversões em início de mandato.

A avaliação dentro do governo é que as decisões acerca de novos investimentos estão demorando mais a sair justamente para dar tempo de novos quadros, que assumiram cargos estratégicos em janeiro, "ficarem a par" dos instrumentos e canais necessários para se investir.

Além disso, investimentos do governo federal dependem de licitações e licenças ambientais, o que torna o processo menos dinâmico que o de uma empresa privada. É por isso, entendem os técnicos, que os restos a pagar de 2010 têm consumido a maior parte dos investimentos neste ano.

"A realidade de 2011, que é muito positiva do ponto de vista das contas públicas, não é de médio prazo", diz Montero. "Já no ano que vem, quando teremos eleições municipais, o jogo começará a mudar." (JV)