Título: O Rio é aqui
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 24/08/2010, Opinião, p. 32

Visão do Correio

A onda de violência que tem sobressaltado a população não parece receber a resposta adequada do Estado. Há muito os atentados à vida e ao patrimônio das pessoas se sucedem, não raro com sacrifício de vidas. A desenvoltura dos facínoras lembra a dos bandidos do Rio de Janeiro, guardadas, claro, as diferenças de território, população e antiguidade. É assustador.

Embora seja notório que o combate ao crime exija permanente atenção dos órgãos de segurança, há descaso no cumprimento do dever. Em Brasília, a atividade policial só ganha visibilidade depois que o delito ocorre. O motivo de semelhante falha não deixa dúvida: no Distrito Federal, não há policiamento preventivo, pelo menos em dimensão capaz de acuar os infratores.

Nos logradouros, raras vezes se encontra um agente policial em patrulha acauteladora. O resultado não poderia ser diferente a escalada da insegurança, que não escolhe espaço para se revelar. Qualquer ponto pode ser alvo da conspiração criminosa. Antes restrita quase exclusivamente à periferia, a violência se instalou no Plano Piloto e bairros nobres da capital.

O exemplo mais recente é o assassinato de Sebastião Carneiro de Sousa no fim de semana. Dono de padaria, ele cometeu a imprudência de resistir a assalto no estabelecimento comercial de que é proprietário. Foi eliminado a tiros. O crime ocorreu na 710 Norte, a 200m de um posto de segurança da PM. São práticas comuns na área a prostituição, o comércio de drogas e a presença de narcotraficante.

Mas, se a situação é de todos conhecida sobretudo dos moradores das quadras constantemente visadas e da população em geral não parece sê-lo das autoridades responsáveis pela repressão, que fecham os olhos à ação desenvolta de fora da lei ousados e confiantes na impunidade. Não resta dúvida: a tolerância da instituição governamental ao trânsito e ação dos delinquentes é a causa que faz a criminalidade repetir-se sempre em ritmo maior.

Até agora não se extraíram da aterrorizante lição do Rio de Janeiro os impulsos de cautela capazes de inibir o avanço dos marginais. Impõem-se medidas enérgicas para o Distrito Federal não chegar ao horror a que chegou a capital fluminense, que, pode-se dizer sem medo de cometer erro, acabou sob domínio de bandidos. Há muitas formas de agir, mas a lógica manda que se utilize dos contingentes da segurança pública, sobretudo da PM, para guarnecer Brasília e as cidades do Distrito Federal. Não há tempo a perder. Atrasos cobram preço alto. O cidadão paga-o com o medo e a vida.