Título: Fabricantes de calçados mantêm ritmo forte
Autor: Martins, Arícia; Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2011, Especial, p. A12

O segundo trimestre terminou aquecido para a indústria calçadista, em linha com a tendência registrada nos primeiros meses do ano. Empresas como West Coast e Piccadilly fecharam o semestre com produção em alta de 24% e 20%, respectivamente, ante igual período de 2010, e além da forte demanda no mercado interno começaram a perceber reação na exportação, fonte de dor de cabeça para o setor nos últimos anos devido à valorização do real.

Segundo o diretor-presidente da Piccadilly, Paulo Grings, a produção do segundo trimestre é em geral 20% menor do que a do primeiro, mas neste ano o desempenho dos dois períodos foi igual. O motivo, explica, é que os consumidores estão mais ávidos por novidades e as lojas procuram renovar mais rapidamente os estoques.

Em relação ao segundo trimestre de 2010, o volume de sapatos femininos produzido pela Piccadilly de abril a junho cresceu 76,8% e a empresa admite rever de 20% para 25% a projeção de alta acumulada em 2011 sobre os 8,8 milhões de pares do ano passado. Conforme Grings, o aumento dos juros e o repique da inflação nos últimos meses não assustaram os consumidores, porque os calçados custam menos do que produtos mais sensíveis ao aperto do crédito, como eletroeletrônicos.

A avaliação é a mesma de Eduardo Schefer, diretor da West Coast, que encerrou o semestre com 1,3 milhão de pares fabricados, 24% a mais do que nos seis primeiros meses de 2010, e prevê alta de 25% no ano, para 3 milhões de pares. Conforme o executivo, o segundo trimestre é normalmente 50% mais forte do que o primeiro.

As exportações, que até abril haviam recuado 5% ante o mesmo período de 2010, também reagiram com força e fecharam o semestre com alta de pelo menos 8%, disse Schefer. Segundo ele, as vendas se recuperaram principalmente na Argentina e no Oriente Médio e os embarques ao exterior devem corresponder a 20% da produção total do ano. Na Picadilly, as vendas externas cresceram 29% no semestre e devem fechar o ano com participação de 30% sobre a produção total da empresa, ante 25% em 2010.

O desempenho da Piccadilly e da West Coast contraria preocupações da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), que vem alertando para o risco de "desindustrialização" do setor. Em nota, a entidade destacou que o IBGE apurou em maio queda da produção de calçados no país pelo oitavo mês consecutivo -3,3% em relação ao mesmo mês de 2010.

Segundo a associação, o varejo continua aquecido, mas as importações cresceram 21,1% até maio sobre igual período de 2010, para 16,2 milhões de pares, e ocuparam espaço dos calçados nacionais. Já as exportações totais do país seguem abaixo do ano passado, mas o ritmo da queda vem caindo. Em março, o recuo havia alcançado 37,6% ante março de 2010, mas em maio a queda foi mais suave: 12,1%. No acumulado dos cinco meses, os embarques diminuíram 29,1%, para 49,2 milhões de pares.