Título: Para Diniz, presidente do Casino só pensa no controle do Pão de Açúcar
Autor: Pupo, Fábio; Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2011, Empresas, p. B4

Na semana passada, o empresário Abílio Diniz se deu conta de que estava perdendo a batalha da comunicação na disputa com seu sócio francês Casino para promover a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil. Agressivo, o Casino havia publicado anúncios nos jornais e acusado Diniz de desrespeitar o contrato social e agir de maneira ilegal e antiética.Por conta da agressividade francesa, o governo Dilma recuou no apoio à operação de fusão. Não retirou o BNDES do negócio, mas pediu cautela aos gestores. Diante desse quadro, Diniz decidiu fazer uma blitz de comunicação. Publicou anuncio com uma mensagem pessoal nos jornais, contratou advogados e agência externa de comunicação. E procurou a imprensa, da qual mantinha distância até então.

Com o Valor, Diniz falou no sábado à tarde, por telefone. Afável, ele disse que ainda espera convencer seu sócio do Casino, Jean-Charles Naouri, de que a operação de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil é muito positiva para o grupo porque vai internacionalizá-lo. "A operação é sensacional para os franceses e para os brasileiros". Diniz afirmou que Naouri "só pensa em controle" - por contrato, o grupo francês vai assumir o controle do Pão de Açúcar em 2012. Mas, segundo ele, isso não vai mudar nada na companhia e seria muito mais importante criar condições para o seu crescimento, um dos objetivos da proposta de fusão.

Abaixo, um resumo da conversa:

Valor: Por que tomou a iniciativa e insiste em uma operação que o seu sócio Casino não quer fazer?

Abílio Diniz: Porque sempre negociei sozinho. Foi assim no caso das Casas Bahia e do Ponto Frio. Quem cuidou de tudo fui eu. Eles [os franceses] tinham um medo danado desse negócio de eletrodomésticos e não queriam nem falar sobre o assunto. Agora estão adorando.

Valor: Mas o Naouri disse que o senhor agiu de forma ilegal.

Diniz: Não cometi nenhuma ilegalidade. Em nenhum trecho do nosso acordo de acionistas está escrito que eu não posso conversar e prospectar negócios para o Pão de Açúcar.

Valor: Mas se ele não concordar, o negócio não sai.

Diniz: Se ele não quiser, não haverá negócio, mas espero que ele queira. Porque o negócio é sensacional para o Pão de Açúcar. Ele só pensa em controle, que vai assumir no ano que vem. Mas isso não vai mudar nada. A empresa continua a mesma. Ele inclusive vai ser obrigado por contrato, desde que eu tenha boa saúde, a continuar me elegendo para o cargo que tenho hoje no management.

Valor: Que vantagem essa operação traz ao Casino?

Diniz: A vantagem é que ela vai internacionalizar o Pão de Açúcar, vai criar condições para o crescimento da companhia. O próprio Casino é um grupo que cresce muito devagar e cresce com endividamento. É uma empresa endividada, não em nível preocupante, mas endividada. Nós aqui, que temos um endividamento baixíssimo, não podemos nos endividar mais porque de repente isso repercute lá em cima. Essa sempre foi uma queixa minha e o Jean-Charles (Naouri) nunca quis ouvir falar nisso.

Valor: E como então o Casino está conseguindo comprar ações do Pão de Açúcar na bolsa - gastou com isso mais de R$ 1 bilhão na semana passada?

Diniz: Com mais endividamento, certamente. Porque não tem caixa para isso.

Valor: Por que foi buscar recursos de um banco público, o BNDES, para a operação?

Diniz: Porque a operação também será muito lucrativa para o BNDES. É preciso ficar claro que não haverá recursos públicos. São recursos captados no mercado pelo BNDESPar, que compra e vende ações. Eu poderia fazer esse negócio com muito menos recursos do BNDES, até sem nenhum recurso do banco. Mas ele vai ganhar muito dinheiro. Acertamos que o preço a ser pago será de R$ 66 reais por ação e na semana passada o papel do Pão de Açúcar já estava a R$ 72. E tem um detalhe: o André Esteves está nessa operação. E você acha que o André entraria se fosse furada? Além disso, foi difícil amarrar o negócio com o Carrefour e a presença do BNDES é uma grife, que deu confiança aos franceses.

Valor: Vai procurar o sr. Naouri?

Diniz: Espero convencê-lo de que a operação é sensacional. Mas ele não fala comigo. Estive em Paris e ele não quis falar.