Título: Em cinco anos, CBD e Globex têm R$ 1 bi do BNDES
Autor: Pupo, Fábio; Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2011, Empresas, p. B4

Varejo: Assim como Vale, Gerdau e Usiminas, Pão de Açúcar faz parte do clube com acesso a crédito especial

Nos últimos cinco anos, as operações contratadas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o Grupo Pão de Açúcar somaram R$ 1,02 bilhão. O montante, levantado pelo banco a pedido do Valor, inclui R$ 775,8 milhões da (CBD) e outros R$ 248,7 milhões da Globex (controladora da Ponto Frio e da Casas Bahia, empresas varejistas de eletroeletrônicos do Grupo Pão de Açúcar).

A CBD integra um seleto clube de empresas, como Vale, Gerdau e Usiminas, que receberam do BNDES um empréstimo especial chamado limite de crédito. Este é colocado à disposição do tomador para financiar, principalmente, planos de investimento de companhias. Para ganhar esse direito, a empresa deve ter uma nota de risco de crédito no banco de A a B menos.

Em junho do ano passado, a CBD recebeu um limite de crédito de R$ 513,6 milhões para seu plano de investimento no período de 2008 a 2011. Antes disso, em 2007, recebeu R$ 247,3 milhões do BNDES; e em 2006, R$ 14,8 milhões.

Com a Globex, foram firmados contratos em três anos: em 2006 (R$ 54 milhões), em 2007 (R$ 164,2 milhões) e um terceiro em 2008 (R$ 30,1 milhões).

Atualmente, a dívida da CBD com o BNDES por contratos de linha de crédito soma R$ 483,2 milhões (último dado disponível, referente ao primeiro trimestre deste ano). As parcelas a serem pagas têm vencimentos entre novembro de 2011 e dezembro de 2016. Ao todo, a dívida líquida da CBD soma R$ 5,9 bilhões ao fim de março.

Sobre os contratos de empréstimos do BNDES a empresas do Grupo Pão de Açúcar anteriores a 2005, o banco alegou dificuldades na pesquisa e não informou as operações. Mas sabe-se que a história entre Pão de Açúcar e BNDES é antiga.

Em 1976, quando a família Diniz, principal acionista do Pão de Açúcar, comprou a Eletroradiobraz, o BNDE (ainda sem o S, de Social) concedeu crédito. Esta operação representou um salto expressivo nas operações do grupo. Na época, a rede adquirida tinha oito supermercados, 26 hipermercados, 16 magazines e um depósito na via Anhanguera.

Na mais recente operação anunciada por Abilio Diniz, principal acionista brasileiro do Grupo Pão de Açúcar, o BNDESPar (empresa de participações do banco) teria papel importante. Para unir as operações de Pão de Açúcar e Carrefour, o BNDES entraria com R$ 3,91 bilhões.

Mas o Casino, quarta maior rede de supermercados da França é sócio do Pão de Açúcar, tem dito que é contra a operação e que lutará para assumir o controle da varejista brasileira em julho de 2012, conforme o acordo de acionistas assinado em novembro de 2006.

A posição firme do Casino fez o governo recuar no apoio que vinha dando à operação que criaria a megavarejista, cuja fatia no total das vendas de supermercados nacionais é estimada em mais de 32%. Em alguns mercados importantes, como o do Estado de São Paulo, essa fatia pode ser muito maior.

O BNDES, na semana passada, acabou divulgando dois comunicados sobre a operação proposta por Abilio Diniz, o principal acionista brasileiro do Grupo Pão de Açúcar. A mensagem é a seguinte: o banco dará apoio à criação dessa nova varejista se não houver conflito entre os sócios. A premissa para a participação do banco é o entendimento prévio entre Abilio e o CEO e principal acionista do Casino, Jean-Charles Naouri.

Ontem o conselho de administração do Carrefour na França aprovou a proposta de Abilio Diniz de combinação dos negócios com o Pão de Açúcar. Mas o Carrefour também quer que os sócios, Diniz e Naouri, se reconciliem antes de levar as negociações adiante.

O executivo francês tem hoje, no final da tarde, um encontro com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Este reuniu-se com Diniz na sexta-feira. O Grupo Pão de Açúcar foi procurado pela reportagem do Valor, mas não se pronunciou.