Título: PT e Roriz: a guerra continua
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 24/08/2010, Cidades, p. 41

eleições 2010

No programa eleitoral, candidato do PSC usa imagens de Dilma Rousseff, enquanto petistas lembraram condenação do ex-governador

A guerra de nervos entre Agnelo Queiro (PT) e Joaquim Roriz (PSC) na programação eleitoral teve mais um capítulo ontem, com as versões que foram ao ar na rádio e na televisão e as contestações na Justiça. A coligação do petista insiste em divulgar a fragilidade da candidatura de Roriz, que segue impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Em sua defesa, o ex-governador pede na Justiça direito de resposta e rebateu os ataques do adversário com ironia.

A segunda versão do programa de Joaquim Roriz, veiculada às 20h30, começa com imagens que sugerem uma contradição: Dilma Rousseff, a presidenciável pelo PT, passeia com seu cachorro às margens do Lago Paranoá takes retirados do primeiro programa eleitoral da candidata à presidência da República. Em seguida à cena, o grupo de Roriz informa que Dilma só pode desfrutar daquele momento com seu cachorro, que entra na água para buscar um graveto jogado por Dilma, porque Roriz despoluiu o Lago Paranoá. A coligação encabeçada pelo PSC encerra o quadro com um singelo agradecimento ao PT pelo reconhecimento pelos feitos do ex-governador.

E como ironia com ironia se paga, o grupo de Agnelo, segundo a coordenação de campanha petista, não viu com preocupação o uso das imagens de Dilma. Ao contrário, fazendo uma alusão a uma célebre frase usada pelo jurista Rubens Ricupero, a turma do PT devolveu a alfinetada. O que é bom, como a Dilma Rousseff, eles quiseram faturar e mostraram no programa. O que é ruim, José Serra, eles esconderam, descontou a coordenação de comunicação de Agnelo.

Sem licitação No mesmo horário eleitoral, o programa do petista repercutiu a decisão da Justiça Federal que condenou Roriz a devolver R$ 7,7 milhões à União por ter firmado contrato sem licitação em 2004. Por determinação do TRE, a coligação de Agnelo tinha sido obrigada a retirar comunicado contra Roriz da programação de TV, mas o teor da mensagem que trata da impugnação do ex-governador foi mantida na propaganda veiculada no rádio. A versão de ontem começou com uma suposta alusão à condição de Roriz: Ninguém aguenta mais ficha suja. Depois, o programa fala em desmandes que ocorreram ao longo dos 20 anos, citando que, durante período de 14 anos, a cidade esteve sob o comando de um tal político, que seria o responsável por problemas crônicos na capital. O reforço para o bombardeio contra o ex-governador veio na forma de depoimento de um eleitor: O Roriz é ficha suja, foi barrado pelo TRE.

O programa de rádio foi ao ar ao meio-dia. Pouco depois, às 13h foi a vez do formato para a televisão. Na tela, durante o horário de almoço, a coligação de Agnelo aliviou. Optou pela versão mais propositiva, pautada na saúde. Atentos às duas programações, os advogados de Roriz decidiram entrar com novo processo no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desta vez, denunciando o que avaliam se tratar de descumprimento de decisão judicial. No fim de semana, dois juízes eleitorais proferiram liminar determinando que a coligação Novo Caminho retirasse do ar trecho do programa que chama Roriz de ficha suja e diz que o candidato está impedido pelo TRE de se candidatar.

Direito de resposta Os advogados de Roriz ainda esperam conquistar direito de resposta, que será avaliado esta semana. A coligação do ex-governador já tem, inclusive, a fita gravada com o conteúdo que pretende exibir caso conquiste o tempo no horário reservado ao PT para se defernder. O trecho considerado ofensivo pelo grupo de Roriz durou 27 segundos. Mas a lei faculta ao candidato vitorioso num processo de direito de resposta usar até um minuto para desmentir o adversário. O Ministério Público Eleitoral se pronunciou no último domingo contrariamente ao pedido da coligação do ex-governador.

A defesa do PT também ingressou na Justiça com um recurso contestando a liminar que suspendeu parte da programação de Agnelo. Os advogados do petista argumentam que não há inverdades nos dados veiculados durante a propaganda e que as pessoas devem ter direito à informação.

O número 18 de setembro Data a partir da qual nenhum candidato, membro de mesa receptora ou fiscal de partido poderá ser detido ou preso, salvo em flagrante delito

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Durou 27 segundos o trecho do programa do PT no qual Roriz foi chamado de ficha suja. Se a coligação do ex-governador conseguir direito de resposta, ela poderá usar até 1 minuto do tempo do adversário

Palanque eletrônico Cadê Roriz?

Dad Squarisi

O clamor se ouve do Lago Sul ao Itapoã. Ecoa na Estrutual, passa pelo Riacho Fundo e chega ao Recanto das Emas. Ultrapassa os limites da capital. Cadê Roriz?, perguntam os amigos de Luziânia. Queremos Roriz, clamam os eleitores azuis.

Explica-se. O homem da tevê não é o ex-governador. Os olhos verdes são os mesmos. O bronzeado também. O sorriso não mudou. Mas o discursoRoriz era mão de vaca. Economizava os ss. Os filhos? Puro esbanjamento. Bastava os filho. Todos entendiam. Agora esses ssssssssssss todos

Roriz sobressaía. Só ele dominava o plural de modéstia. Pra não parecer arrogante, deixava o eu pra lá. Recorria ao nós. É um truque. Conhece? O nós continua eu. Aí o verbo vai para a primeira pessoa do plural, mas adjetivos e substantivos não. Nós somos trabalhador e honesto, dizia com propriedade o saudoso morador do Buriti.

Os invejosos criaram calos na língua. Diziam que ele acertava porque foi mau aluno. O troco veio na telinha. Roriz vai além dos ss. Esbanja próclises e mesóclises. Acerta formas rizotônicas e arrizotônicas. Esnoba o futuro composto. Fica no sofisticado porvir simples.

Mutatis mutandis, teme-se que o ex-governador repita a conhecida e verídica história de Rui Barbosa. O Águia de Haia, zangado porque o café da manhã chegara à mesa com atraso, repreendeu o mordomo: Romualdo, por mais de uma feita não vos obtemperei que esta minha indefectível rubiácea dever-me-ia ser servida ao primeiro rosicler da manhã?

Volta, Roriz!