Título: Inflação de serviços supera IPCA e sobe 9,4% em 12 meses
Autor: Martins, Arícia; Lorenzo, Francine De
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2011, Brasil, p. A3

De São Paulo

A inflação dos serviços atingiu em julho o pior nível desde a implantação do regime de metas em 1999 ao registrar alta de 8,8% em 12 meses, sem levar em conta os preços da alimentação fora de casa. Quando esse item é incluído, a inflação dos serviços sobe e atinge 9,4%. No mesmo período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 6,87%.

A desaceleração nos preços dos serviços entre junho e julho não animou os especialistas. A alta passou de 0,60% para 0,42% no período. Com a inclusão dos restaurantes, o recuo do índice foi de 0,55% para 0,52%. "Já esperávamos uma pressão menor devido aos reajustes mais baixos em aluguéis, condomínios e serviços bancários", diz Thiago Carlos, da Link Investimentos. "Mas creio que essa é uma retração pontual", afirma ele.

Para Thiago Curado, da Tendências Consultoria, a intensa demanda por serviços deve continuar no segundo semestre, o que manterá os preços pressionados. "Com o aumento esperado de 14% para o salário mínimo em 2012, os sindicatos terão fôlego para pedir aumentos reais", explica o economista, que prevê alta de 8,4% nos serviços em 2011, contra IPCA de 6,6%.Os analistas, no entanto, já veem possibilidade de melhora - ainda que pequena - em 2012, com a desaceleração da atividade. Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos, não descarta que o ciclo de elevação dos serviços esteja chegando ao fim. "Se a inflação cheia começa a se desacelerar, só pela própria indexação os preços de serviços já param de subir", diz.

Os serviços indexados - grupo criado pela Quest para designar itens atrelados a índices de preços, como aluguel, empregado doméstico e educação - são os que apresentam pior evolução em 12 meses, com avanço de 10% até julho.

Ramos observa que a taxa de desemprego pode ter alcançado seu piso, o que ajuda a atenuar aumentos de preços regulados pela pressão da demanda. "A desocupação chegou a um limite no qual não se consegue mais subir muito o salário do trabalhador. A criação de vagas está perdendo ritmo aos poucos e é bem provável que o desemprego não ceda mais nos próximos meses."

Curado, da Tendências, acredita que ainda existe espaço para piora nos serviços em agosto, mas prevê desaceleração lenta para os próximos meses, assim como em 2012. "Nosso cenário é de pequena queda nos serviços, mas nenhuma grande mudança. Teremos um impacto da política monetária sobre a atividade, mas não será suficiente para trazer a inflação para o centro da meta em 2012." A projeção da Tendências é 5,2% para o IPCA no próximo ano.

O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, prevê que os serviços devem atingir 8,8% em 2011 e recuar para 8% no próximo ano. Ele destaca que, em 2010, o grupo fechou o ano com elevação de 7,6%. "De um lado, temos o IGP-M perdendo fôlego, mas de outro, o IPCA, terá alta de 6,1% na nossa projeção."

Ele ressalta que o aumento nos serviços não é só reflexo da demanda aquecida, mas também de um forte componente inercial de indexação que o grupo tem. "Conforme a atividade se desacelera, os serviços vão lentamente perdendo força. O mercado de trabalho já dá sinais tímidos de redução no seu ritmo de crescimento e isso terá efeito nos serviços ao longo do ano que vem", observa.

"Se tudo der certo, os serviços devem cair somente em julho do ano que vem", projeta José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.