Título: Desafio é competir com empresa que ainda segue modelo antigo
Autor: Vasconcellos, Carlos
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2011, Especial: Economia verde, p. F4

Mineração : Transição para economia verde tem custo alto e depende da competitividade

Para o Valor, de São Paulo Setores como os de mineração e indústria de base enfrentam um desafio duplo na transição para a economia verde no Brasil. Ao mesmo tempo em que geram grandes passivos ambientais - e precisam investir fortemente para compensá-los -, eles enfrentam a competição internacional de empresas instaladas em países que ainda seguem um modelo econômico antigo, anterior à era da responsabilidade socioambiental. Essa é a visão de Franklin Feder, presidente da mineradora Alcoa. "É uma questão de competitividade", diz. "Enquanto nós, no Brasil, buscamos um nível de responsabilidade ambiental e engajamento social crescente, isso está longe das prioridades de muitos concorrentes globais."

Feder explica que os setores de mineração e indústria de base entendem o desafio e buscam se aparelhar para essa travessia rumo à economia verde. "Sou otimista, nenhum país tem melhores condições do que o Brasil para fazer essa transição", afirma.

O custo dessa adaptação, no entanto, é alto. E para que essas empresas - e o país- mantenham a competitividade, defende o executivo, seria preciso que os setores público e privado se unissem para diminuir a desvantagem contra rivais menos interessados nesse novo modelo econômico. "Por isso é fundamental superar problemas do câmbio, da estrutura tributária, do custo da energia", enumera.

Mas os obstáculos não estão apenas aí. Também é preciso lidar com o peso do passado. No setor de mineração, Feder observa que embora as empresas se esforcem para implantar um modelo de negócios mais sustentável, os grandes projetos minerais do país foram criados numa época diferente, com regras menos rígidas.

Carlos Rossin, diretor da área de Sustentabilidade da consultoria PWC, observa que, na transição para a economia verde, o setor de mineração busca trabalhar em duas vertentes: aumentar a eficiência dos processos e preservar os recursos.

"As empresas estão conscientes do problema e há uma pressão muito grande da sociedade para que elas se adaptem", avalia. No entanto, ele acredita que os esforços das mineradoras - e o mesmo vale para a indústria de base - não é suficiente hoje para acompanhar a curva de demanda da sociedade. "E a tendência é de que a pressão cresça nos próximos anos."

Já Nelson Pereira dos Reis, diretor do departamento de meio ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), acredita que, apesar dos custos, a transição para a economia verde é compensadora. "O mundo começa a perceber isso como uma vantagem e há demanda de mercado diz. Ele vê boas perspectivas para a produção do aço verde. "O setor siderúrgico começa a superar os problemas de desmatamento ilegal e trabalho escravo na cadeia produtiva, mas ainda precisa melhorar a eficiência tecnológica no uso do carvão vegetal", diz.

Rinaldo Mancin, diretor de Assuntos Ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), minimiza o passivo ambiental das mineradoras. "Somos o único setor da economia que tem obrigação legal, prevista na Constituição, de promover restauração ambiental nas áreas em que atua", argumenta. Mancin observa que a indústria de mineração hoje é responsável por apenas 0,5% do total de emissões de gás carbônico no Brasil.

O professor Roberto Guimarães, coordenador do MBA de Gestão Ambiental da Fundação Getúlio Vargas, avalia que os esforços das mineradoras para se integrar a uma economia sustentável ainda são superficiais. "E isso não é um fenômeno exclusivo do Brasil", diz. "Em vez de procurar mais cobre, as empresas deveriam pesquisar materiais alternativos enquanto maximizam o uso das reservas não renováveis", explica.