Título: Vice-presidente se diz 'muito chocado' com PF
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2011, Especial, p. A12

De São Paulo

O vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, disse ter ficado "muito chocado" com a atuação da Polícia Federal na Operação Voucher, que prendeu 36 pessoas por suspeita de envolvimento em um esquema de desvio de recursos do Ministério do Turismo. Temer criticou o uso ostensivo de algemas nas prisões.

"Os exageros nos últimos acontecimentos são notórios. Eles não surgiram de uma coisa gravíssima", declarou o vice-presidente da República. "De vez em quando ouço dizer que há provas robustas... Mas cadê as provas robustas?", questionou. "A história das algemas pegou muito mal", disse Temer, lembrando que o Supremo Tribunal Federal determinou que as algemas só devem ser usadas em casos de "periculosidade intensa".

O presidente licenciado do PMDB criticou também a ação policial na prisão do pemedebista Colbert Martins, secretário nacional de políticas de Desenvolvimento para o Turismo. "O que se fez com o ex-deputado Colbert Martins foi absolutamente desnecessário", declarou ontem, depois de participar de um evento político do PMDB em São Paulo.

Ao lado de Temer no evento, o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), reforçou as críticas contra a Polícia Federal e disse que o PMDB foi injustiçado no caso.

Raupp reclamou, sobretudo, da prisão do "sem uma única prova". "Condenar uma pessoa, apunhalar sem uma única prova é uma coisa muito difícil", afirmou. "Houve excesso do juiz que decretou a prisão, do promotor, da Polícia Federal que prendeu, que algemou pessoas inocentes", declarou.

O dirigente disse que é "meio difícil de acreditar" que o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, não sabia da operação da Polícia Federal, já que a PF é subordinada ao ministério. Em crítica indireta ao tratamento dado pelo governo ao partido, Raupp alegou que o PMDB esteve sempre ao lado do governo federal, "mesmo nos momentos mais difíceis" da gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não deixamos de dar apoio ao governo", disse.

Em meio à crise política com o governo da presidente Dilma Rousseff, Raupp defendeu o lançamento de candidatura própria à Presidência, em 2014. "Temos uma sólida aliança com o PT, que poderemos até reeditar. Mas temos nomes para disputar 2014, se necessário", declarou no evento político.

Entre os nomes que o partido poderia lançar, destacou Raupp, estão o do vice-presidente da República, Michel Temer, e do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O dirigente disse ainda que as novas lideranças que o partido está filiando neste ano poderão se tornar nomes para a disputa presidencial.

Ao lado de Temer, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, recém-filiado ao partido, reforçou a tese da candidatura própria para Presidência. O único deputado federal eleito pelo PMDB de São Paulo, Edinho Araújo, também defendeu a separação do PMDB e PT em 2014. "O partido é parte da sociedade e tem que almejar o poder", disse Araújo.

Os pemedebistas participaram ontem de evento de filiação ao PMDB do ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho. (CA)