Título: Inflação ainda não irá para o centro da meta em 2012
Autor: Bittencourt, Angela; Pinto, Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2011, Finanças, p. C1

De São Paulo

A percepção do mercado de que a inflação brasileira não convergirá para o centro da meta, de 4,5%, em 2012 está se tornando uma certeza. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estará mais para 5% do que para 4,5%, mas não há indicação de que esbarrará no teto da meta como ocorre neste ano.

Zeina Latif, do RBS, mantém sua projeção de 5% para o IPCA em 2012, por que o grau de incertezas no cenário externo terá impacto enorme no comportamento das commodities. Ela explica que, por ora, as pressões sobre as commodities são baixistas, devido a maiores preocupações com bancos europeus, risco de recessão nos EUA e percepção de que a contribuição da China na margem não seria elevada. Por outro lado, diz Zeina, um quadro de crescimento mundial ainda razoável associado ao QE3 nos EUA poderia gerar pressão altista sobre as commodities mais adiante, pondo em risco o quadro de inflação em 2012. Além disso, não se deve desconsiderar o impacto do ajuste do salário mínimo em 2012 - um outra fonte de risco importante.

Alex Agostini, da Austin Rating, é categórico. Não espera a convergência da inflação para o centro da meta em 2012. "Nossa projeção é de 5,2%. Apenas em 2013 vislumbramos a possibilidade de convergir para 4,5%. Isso porque, há por parte do governo a necessidade de investir fortemente em infraestrutura e mobilidade urbana para a realização dos eventos esportivos de 2014 e 2016, além do pré-sal."

"A convergência em 2012 dependerá efetivamente da ocorrência de uma recessão mais aprofundada nos EUA", diz.Eduardo Velho, da Prosper Corretora. Por isso, ele considera mais provável em 2013.

Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos - associada ao ING, trabalha, por ora, com um cenário que não contempla a convergência da inflação para o centro da meta em 2012 (o IPCA ficaria em 5,5% em 2012). Para a convergência ocorrer, explica, a desaceleração da economia teria que se mais acentuada, elevando o desemprego para patamares de 7,5% a 8,0%.

Ele lembra que, em junho, dado mais recente divulgado pelo IBGE, a taxa de desemprego foi de 6,2%. "O quadro externo incerto, com grandes chances de repetir os desdobramentos do último trimestre de 2008, impõe um viés de baixa para o nosso cenário. Em caso de uma crise sistêmica, com forte retração do crédito internacional, recairá sobre a política monetária o ônus de atenuar os impactos deflacionários sobre a economia brasileira", avalia o economista.

Também para a MB Associados, a convergência da inflação para o centro da meta no ano que vem é muito difícil. "Só aconteceria se houvesse uma crise significativa. Sem isso, continuamos avaliando que a meta não será atingida durante todo o governo Dilma", afirma Sérgio Vale. (AB e LP)