Título: Acordo de metalúrgicos do ABC é criticado por centrais
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2011, Brasil, p. A6

De São Paulo

Os acordos salariais fechados nesta semana pelos metalúrgicos das montadoras do ABC, Taubaté e São Paulo, e na Renault do Paraná reintroduziram no país uma modalidade que foi testada no começo do novo século e não vingou - os reajustes salariais por períodos longos de tempo. Estimulados pela estabilidade de preços, em 2001, no ABC, montadoras e sindicato celebraram um acordo por dois anos, mas depois voltaram à prática da negociação anual.

Longe do ABC, o acordo salarial fechado no domingo pelos metalúrgicos divide a opinião de outros sindicatos da categoria. O acerto que valerá até 2012 garante 5% de aumento real (metade este ano, metade no próximo), além de abono de R$ 2,5 mil. Para sindicalistas não filiados à CUT, a validade de dois anos não é vantajosa para o trabalhador, já que a conjuntura econômica pode mudar muito no longo prazo. Já o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) avalia o acordo prolongado como positivo em um cenário permeado de incertezas com a deterioração das economias internacionais.

A divergência está principalmente no aumento real alcançado. Os sindicatos de metalúrgicos de São José dos Campos e Campinas não ficaram satisfeitos com os 5% e afirmam que vão exigir reajustes maiores em suas campanhas salariais. Já a Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, da Força Sindical, vê com bons olhos o acordo, que poderia trazer perspectivas de um reajuste igual aos cerca de 800 mil metalúrgicos representados pela entidade, que têm data-base em novembro. "Estamos falando de uma negociação que está no topo da cadeia. Usaremos esse acordo como exemplo", diz Marcos Mota, assessor político da federação.

Ontem, o acordo do ABC foi superado pelo dos metalúrgicos da Renault, no Paraná, que concedeu aumentos reais de 2,5% este ano, mais 3% em 2012, e 3,5% em 2013, além da reposição da inflação e uma correção da estrutura de salários da empresa que pode conceder até mais 10% reais para os trabalhadores da primeira faixa salarial da montadora. Além desses percentuais reais, o acordo também prevê abonos salariais de R$ 5 mil todos os anos.

Sobre a validade de dois anos do acordo fechado pelo ABC, Mota acredita que um acordo anual é mais interessante para o trabalhador em função de mudanças na conjuntura econômica, que, mesmo improváveis, podem acabar ocorrendo. Na opinião dos presidentes dos sindicatos da categoria em Campinas e em São José, o aumento atingido pelo ABC foi insuficiente. "É um acordo rebaixado. Com a inflação alta do jeito que está, eles teriam que lutar por coisa maior", afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, Vivaldo Moreira Araújo. A campanha salarial do sindicato filiado ao Conlutas pede neste ano reajuste real robusto, de 9,8%, mais a previsão de INPC. Em 2010, o aumento acima da inflação para os 40 mil metalúrgicos da região foi de 4,5%. O sindicato da categoria em Campinas, integrante do Intersindical, exige aumento real de 8,25% aos 60 mil trabalhadores em sua base.

Analistas consideraram o aumento conseguido pelos metalúrgicos do ABC, São Carlos e Taubaté robusto (o acordo da Renault foi divulgado posteriormente), o que pode ser tomado como base na negociação de outros setores importantes com data-base próxima.

Para Fábio Romão, da LCA Consultores, o percentual é "importante" e sinaliza que a renda dos trabalhadores continuará em alta. Na avaliação do Dieese, o acordo foi positivo, o que não marca necessariamente um paradigma em todas as negociações que ainda vão ocorrer no ano, diz o coordenador de Relações Sindicais da entidade, José Silvestre Prado de Oliveira. "Mas é óbvio que ele terá efeito de sedução em outras categorias", diz.