Título: Com novo assessor, Obama reforça foco em criar empregos
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2011, Internacional, p. A12

De Washington

Com sua a popularidade corroída pelos altos índices de desemprego, o presidente americano, Barack Obama, anunciou ontem a nomeação de um especialista em economia do trabalho, o professor da Universidade de Princeton Alan Krueger, para chefiar o conselho de assessores econômicos da Casa Branca.

O governo Obama pretende divulgar um pacote de medidas de estímulo ao emprego na próxima semana, quando o dia do trabalho é comemorado nos Estados Unidos. A taxa de desemprego chega a 9,1%, cerca do dobro dos percentuais de antes da crise financeira, o que dificulta os planos de reeleição de Obama da disputa do próximo ano.

Krueger é tido como um economista da esquerda moderada que, em virtude de seu rigor científico, é respeitado pelos colegas mais conservadores. Ele conhece bem o funcionamento da burocracia de Washington. Foi economista-chefe do Departamento do Trabalho nos anos 90, durante a Presidência de Bill Clinton, e mais recentemente economista-chefe do Departamento do Tesouro, no próprio governo Obama.

Para estimular o emprego, o governo americano estuda prorrogar cortes de impostos sobre folha de pagamento que vencem no fim do ano, criar um banco para financiamento de infraestrutura e conceder isenções de tributos para empresas que criam novos empregos.

É pouco provável que o pacote tenha efeitos significativos na taxa de desemprego, que, para muitos, é causado pela fraca demanda agregada. Endividadas, as famílias e as empresas americanas cortaram consumo e investimento, dificultando a recuperação econômica. A projeção do Federal Reserve, o banco central americano, é que o desemprego vai cair lentamente. Ficará entre 7,6% e 8,2%, em fins de 2012, quando Obama tentará a sua reeleição.

Com a escolha de Krueger e o anúncio do pacote, pelo menos Obama sinaliza aos eleitores americanos que a criação de empregos será sua principal prioridade. "Essa é nossa missão mais urgente", disse ontem, ao anunciar o novo assessor. "Alan [Krueger] entende os difíceis desafios que o país tem pela frente."

Na semana passada, o Partido Republicano, de oposição, divulgou o seu próprio plano para criar postos de trabalho, que inclui o controle do gasto público para aumentar a confiança entre empresas e consumidores, o relaxamento de regulações que impõem custos aos negócios e aprovação de tratados de livre comércio assinados com Coreia do Sul, Panamá e Colômbia.

Um dos estudos acadêmicos mais conhecidos de Krueger, feito em 1992 em parceria com o economista David Card, mostra que um aumento no salário mínimo não leva, necessariamente, a uma redução dos níveis de emprego.

No começo desse ano, ele escreveu um artigo para a agência de notícias Bloomberg afirmando que o desemprego iria cair com o fim do período de seguro desemprego. Segundo ele, muitos trabalhadores só seguem procurando emprego - e por isso são contabilizados nas estatísticas de desemprego - porque esse é um pré-requisito para receber o benefício do governo. Sua pesquisa acadêmica também inclui outros temas econômicos, como educação, felicidade, distribuição de renda, regulação e terrorismo.

Ele será o terceiro presidente do conselho de assessores econômicos da Casa Branca, criado em 1946 para dar conselhos independentes aos presidentes americanos. Christina Romer deixou o cargo há um ano para retornar à Universidade da Califórnia, em Berkeley, e o atual titular, Austan Goolsbee, também anunciou a partida para retomar a carreira acadêmica na Universidade de Chicago. O conselho é formado por outros dois economistas, Katharine Abraham (Universidade de Maryland) e Carl Shapiro (Berkeley).

Krueger é mais um numa crescente lista de ex-auxiliares de Clinton que entraram recentemente no governo Obama. O presidente do conselho econômico nacional, Gene Sperling, e o chefe de gabinete da Casa Branca, William Daley, também tiveram cargos no governo Clinton.