Título: Desemprego é de 6,9%
Autor: Braga, Gustavo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2010, Economia, p. 14

Desaceleração da economia não impacta o mercado de trabalho. Desocupação é a menor da história e renda sobe 5,1%

Apesar da desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira constatada por órgãos do próprio governo, como Banco Central e Ministério da Fazenda, os dados da atividade do mercado de trabalho comprovam que as contratações seguem a todo vapor. A taxa de desocupação nas seis principais regiões metropolitanas do país caiu para 6,9% em julho, resultado recorde na série histórica apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao mesmo tempo que o desemprego caiu, a renda da população ocupada cresceu 5,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado, resultado que animou o mercado diante da perspectiva de consumo (1)pujante no segundo semestre.

O segmento de trabalhadores com maior incremento nos salários foi o dos sem carteira assinada no setor privado. Em julho de 2009, eles ganhavam, em média, R$ 908,61. A quantia é 16,9% menor que os R$ 1.062,20 observados no mês passado. Quando considerada a divisão por atividade do emprego, os funcionários da construção civil são os que obtiveram maior ganho: 14,2%. Segundo o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Azeredo, o aumento do rendimento médio real da população está diretamente relacionado com a melhora na qualidade dos postos de trabalho gerados.

Após um período de estagnação observado no ano passado, devido aos efeitos da crise mundial, a economia voltou a crescer e a ocupação superou os níveis pré-crise. A indústria setor que mais sofreu em 2009 agora está entre os que mais contratam, afirmou Azeredo. E foi exatamente na indústria que o gráfico Johnatan Miranda Silva, 22 anos, morador do Recanto das Emas, conseguiu um emprego no primeiro semestre do ano. Apesar de nunca ter feito curso técnico, Johnatan aprendeu o ofício no dia a dia da empresa. Pretendo usar o dinheiro para pagar uma faculdade de biologia, revela.

De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do Distrito Federal (Sindigraf-DF), Antônio Eustáquio, o faturamento do setor sofreu uma queda de cerca de 40% nos meses que sucederam a crise, mas, em 2010, a expectativa é recuperar as perdas com crescimento real entre 7% e 8%, puxado principalmente pelas demandas governamentais para impressão de balanços de fim de mandato e, em menor escala, pelas campanhas eleitorais.

Ressalvas O consultor empresarial e professor de administração da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Pinho pondera que, apesar de positivos, há ressalvas a serem observadas em relação aos números divulgados pelo IBGE. O grande problema é a qualidade dos empregos que estão sendo gerados. A maior parte dos postos está no setor de serviços, onde há baixa qualificação. Esse tipo de emprego é muito volátil, basta um sinal negativo macroeconômico para que seja rapidamente fechado, explica. Outro fator que influenciou os dados, segundo Pinho, é o fato de 2010 ser um ano eleitoral.

Na avaliação do banco Santander, a queda no desemprego e o aumento na renda reforçam a previsão de que o consumo interno continuará subindo nos próximos meses. Em preparação para essa demanda aquecida que se manifestará mais intensamente em datas como o Dia da Criança e o Natal, o diretor comercial da loja de brinquedos Harris, no Brasília Shopping, Teilon Cesar, reforçará o quadro de funcionários em 50% até a primeira quinzena de setembro. Os contratos são até dezembro, mas sempre tem aqueles que acabam efetivados, disse.

O Bradesco reforça o coro de otimismo quanto ao aumento do rendimento médio real. A renda será um dos determinantes mais importantes para segurar a demanda em nível elevado, afirmou o banco. Já a corretora Prosper considera que esse, e sobretudo os próximos números da Pesquisa Mensal de Emprego, tendem a frear uma queda maior da taxa de juros na curva futura. Mas o viés de queda com dados fracos da atividade econômica oriundos do exterior tem sido predominante.

1 - Contratações sobem De acordo com a série histórica do IBGE, tradicionalmente, o segundo semestre registra quedas sucessivas na taxa de desocupação. De acordo com o gerente da PME, Cimar Azeredo, o principal motivo para isso são as contratações para atender a demanda das festas de fim de ano e do Dia da Criança. Nessa época, a indústria precisa produzir mais e o comércio necessita de mais caixas e vendedores. A previsão é de essas contratações serem detectadas nas pesquisas de agosto e setembro e, mais intensamente, em novembro.

Reajuste com ganho real

O aumento nos salários dos trabalhadores brasileiros também foi detectado pelo balanço dos reajustes salariais registrados no primeiro semestre. Aproximadamente 97% das 290 negociações resultaram em aumentos iguais ou acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de acordo com levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em 2008, esse percentual havia sido de 83% e, no ano passado, de 93%. Já a proporção de acordos que resultaram exclusivamente em ganho real subiu 11,3 pontos percentuais, atingindo a marca de 87,9%. Algumas das principais categorias, como bancários e petroleiros, entretanto, ficaram para o segundo semestre.

O coordenador de Relações Sindicais do Dieese, Silvestre Prado de Oliveira, atribui o aumento do ganho real dos trabalhadores à retomada do crescimento econômico e à inflação, nos primeiros seis meses de 2010, inferior em comparação à observada em iguais períodos dos últimos dois anos. De acordo com Oliveira, o reajuste do salário mínimo base de referência para diversas categorias também impactou significativamente os resultados. Com a economia aquecida e os altos lucros das empresas, o poder de negociação dos sindicatos aumentou este ano, disse.

Bancários Entre os reajustes concedidos no primeiro semestre, 11,7% apresentaram ganho real (aquele onde são descontados os efeitos da inflação) acima de 3%, quantidade 7,2 pontos percentuais maior que a registrada durante o mesmo período do ano passado. Uma das negociações mais aguardadas para o segundo semestre é a dos bancários, que lutam, além do reajuste, por melhores condições de trabalho.

Na última terça-feira, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf) definiram o calendário de negociações para 2010. Os encontros serão realizados em três rodadas, tratando, respectivamente, de questões relacionadas aos temas saúde, emprego e remuneração. De acordo com o presidente da Contraf, Carlos Cordeiro, o maior problema enfrentado pela categoria na atualidade são as metas abusivas e o assédio moral. Oito de cada 10 bancários se queixam desses problemas, disse. (GHB)

Com a economia aquecida e os altos lucros das empresas, o poder de negociação dos sindicatos aumentou este ano

Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Dieese