Título: Itambé vai investir em MG para crescer em leite longa vida
Autor: Moura, Marcos
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2011, Agronegócios, p. B16

A maior fábrica de leite em pó da mineira Itambé vai ganhar até janeiro uma nova atividade. O conselho da empresa aprovou na semana passada a construção de uma linha de processamento de leite UHT na planta de Uberlândia com capacidade de produzir até 300 mil litros por dia.

A ampliação faz parte de um movimento que se acentuou nos últimos dois anos no Estado que é o maior produtor de leite do país. Nesse período, mais de R$ 1 bilhão foram investidos no incremento do parque industrial mineiro, segundo estima o Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg).

O objetivo da Itambé, segundo o presidente da cooperativa, Jacques Gontijo, é atender principalmente aos mercados de Brasília, Goiás e São Paulo. A Itambé - que já investe R$ 30 milhões na construção de um centro de Distribuição em Pará de Minas, para aumentar o espaço da fábrica no município ainda não definiu qual será o aporte necessário para a remodelagem da planta de Uberlândia, disse Gontijo.

Assim como a companhia, os demais laticínios do Estado reforçam sua capacidade de processamento para aproveitar o aquecimento da demanda doméstica. Nestlé, Laticínios Porto Alegre, Cemil, Laticínios Jussara e Embaré são alguns dos fabricantes instalados em Minas que fizeram as maiores injeções de recursos na ampliação ou construção de novas unidades em Minas nos últimos dois anos.

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Um balanço prévio do sindicato mostra que somente 16 empresas investiram no período R$ 356 milhões. O Silemg tem 160 laticínios afiliados. "O crescimento da renda no país cria um cenário muito promissor", diz o presidente do sindicato, diz Alessandro Rios. "Nos últimos dois anos tem havido grandes investimentos, em parte como reflexo do aumento do poder de compra, e consequentemente do consumo de leite e derivados."

O mercado interno cresce de maneira sustentada a taxas de 4% a 5% ao ano - ritmo seguido de perto pela produção. Mas o problema até poucos anos para empresas de Minas era que muitas delas estavam estranguladas.

Muitas não tinham mais quase nenhuma capacidade ociosa e, assim, assistiram a uma transferência significativa de leite in natura para os laticínios paulistas cuja capacidade de processamento compensava a limitação dos concorrentes mineiros. Atualmente os mineiros industrializam 70% do leite produzido aqui.

A decisão de investir para recuperar a desvantagem coincidiu com um marco para o setor, que em 2008 tornou-se pela primeira vez auto-suficiente na produção de leite, de acordo com Rios. Isso abriu a perspectiva, afirma ele, para que no médio prazo o Brasil passasse a ser um exportador mais consistente.

Não que seja o momento de falar de exportações. Aliás, o contrário. Com um câmbio muito favorável às compras no exterior, a entrada de leite da Argentina e também do Uruguai disparou e até o meio do ano já tinha totalizado 1 milhão de litros. O déficit deve atingir os US$ 500 milhões.

Mas talvez mais do que a auto-suficiência, a onda de investimentos também coincidiu com a decisão do governo de Minas de entrar na guerra fiscal, principalmente contra os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

"Somos muito prejudicados principalmente por São Paulo e ficamos praticamente impedidos de vender para o Estado", reclama Gontijo, da Itambé, sintetizando uma crítica repetida diariamente por indústrias e produtores mineiros do setor de laticínios. A medida do governo trouxe certo alívio ao setor que há anos se queixa de alíquotas de ICMS mais altas cobradas por São Paulo e Rio, principalmente, sobre o leite e derivados vindos de fora de seus territórios.

O setor em Minas Gerais se sente particularmente afetado. O Estado é maior produtor de leite do país, respondendo por 27% dos mais de 30 bilhões de litros produzidos nacionalmente.

"Há cerca de dois anos, passamos a adotar uma política para proteger os produtores e as indústrias de laticínios de Minas que são prejudicadas pela guerra fiscal", diz o secretário adjunto da Fazenda de Minas, Pedro Meneguetti. A política consiste em dar um desconto no ICMS aos produtores e aos laticínios mineiros de modo a compensar a penalização que eles teriam quando vendem para outros Estados. "Demos condições para que o leite e os derivados mineiro cheguem nas mesmas condições ao consumidor que os produzidos e industrializados em outros Estados", afirma.

Meneguetti não diz quanto Minas deixou de arrecadar nesse período por conta do benefício. "Se o Estado não desse esse benefício não teríamos emprego, indústria, produtor rural" argumenta o secretário adjunto.

Pressionados pelos produtores e também pelos laticínios, o governo de Antonio Anastasia tenta convencer o governo de Geraldo Alckmin - ambos do PSDB - a adotarem uma alíquota interestadual comum.

"Apesar dessa situação que nos prejudica, estamos investindo, estamos fazendo a nossa parte para que esses investimentos gerem emprego e renda", afirma Alessandro Rios.