Título: Aliados veem crescimento preservado por Copom e oposição cobra cortes
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2011, Política, p. A8

Os parlamentares da base de sustentação política do governo saíram ontem em defesa da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de reduzir a taxa de juro em 0,5 ponto percentual, por entender que a medida ajuda a preservar o crescimento da economia brasileira, diante da crise financeira internacional. Os partidos da oposição também defendem uma queda dos juros, mas consideram que o governo antes tem que fazer a sua parte, com a contenção dos gastos públicos.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) chegou a ler, no plenário do Senado, o comunicado que o Copom divulgou na quarta-feira à noite, com as razões para o corte na Selic (a taxa básica de juros da economia). "A decisão foi consistente e adequada", concluiu Suplicy. Para ele, as recentes medidas adotadas pelo governo de estímulo às exportações e de desoneração de alguns setores da economia, junto com a decisão do Copom, reduzirão os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira.

Também em discurso, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) congratulou o Copom pela decisão do corte da taxa. Para o senador, o impacto maior da Selic é sobre as contas públicas, na medida que essa taxa remunera os títulos emitidos pelo Tesouro Nacional. "O impacto da Selic nos juros de mercado é muito pequeno", afirmou. Ao Valor, disse que o principal objetivo da queda do juros foi evitar uma desaceleração muito forte da economia brasileira em decorrência da crise internacional. "O governo está com medo de um desaquecimento grande".

Ao defender a medida do BC, o senador chamou a atenção para o forte crescimento do crédito no Brasil nos últimos anos, que passou de 22% do Produto Interno Bruto (PIB) para cerca de 48% do PIB. "Não foram os ricos que contraíram essas dívidas, mas as pessoas das classes C e D", disse Dornelles. "Se a economia brasileira sofrer uma forte desaceleração, essas pessoas poderão perder o emprego e deixar de pagar suas prestações", afirmou. O crescimento da inadimplência vai, segundo o senador, criar problemas ao setor financeiro brasileiro. "Neste momento, nós precisamos de bancos sólidos."

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), negou que o Palácio do Planalto tenha pressionado o Copom para baixar os juros. "Não houve interferência política e a autonomia do Banco Central está mantida", disse. "O Copom avaliou tecnicamente a conjuntura, levou em conta a situação internacional, o impacto da desaceleração da demanda sobre a inflação, o esforço fiscal anunciado pelo governo e a necessidade de preservar um certo nível de crescimento da economia."

O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), disse que a oposição também é a favor da queda dos juros, mas lembrou que a inflação, no acumulado dos últimos 12 meses, está acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "Queremos que os juros caiam, mas não queremos a volta da inflação", afirmou Nogueira. O líder viu um "contágio político" na decisão e disse que o Copom "contrariou o bom senso", pois, segundo ele, reduziu os juros de forma abrupta, depois cinco elevações seguidas da taxa.

O líder do DEM na Câmara, ACM Netto (BA), também viu interferência do Palácio do Planalto na decisão do Copom, pois, segundo ele, um dia antes a presidente Dilma Rousseff tinha dado declarações de que havia espaço para a queda dos juros. "Não somos contra a redução dos juros, mas ela precisa ser acompanhada da contenção das despesas", afirmou.

Tanto Duarte, quanto ACM Netto consideram que a proposta orçamentária encaminhada pelo governo ao Congresso, na última quarta-feira, não ajuda o Banco Central a reduzir os juros. "O orçamento que o governo mandou não é compatível com o discurso oficial de ajuste fiscal e torna-se uma peça de ficção", afirmou. O líder do PSDB acredita que o governo Dilma está preparando uma "nova gastança" em 2012 por causa das eleições municipais. O líder ACM Netto disse que o controle de gastos está apenas no discurso do governo, pois a realidade mostra um forte crescimento das despesas este ano.