Título: Distância conveniente
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2010, Cidades, p. 25

Nem Joaquim Roriz nem José Serra fazem esforço para se manter juntos na campanha do Distrito Federal, mesmo sendo aliados

Joaquim Roriz (PSC) e José Serra (PSDB) dificilmente se encontrarão nesta campanha. Formalmente aliados na disputa eleitoral, os dois candidatos vivem uma distância consensual. Em situação desconfortável na corrida pelos votos no Distrito Federal, o tucano não pretende fazer comício com Roriz. Avalia que perde mais do que ganha ao vincular a sua imagem a uma candidatura contestada pelo Ministério Público Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa. Roriz, por sua vez, também não faz esforço para acertar encontros que podem desagradar ao eleitor simpático ao presidente Lula.

Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada ontem mostrou que Serra está 19 pontos percentuais atrás de Dilma Rousseff (PT) no Distrito Federal. O tucano tem 25% das intenções de voto, contra 44% registrados pela petista. O desempenho até agora é bastante inferior ao do candidato Geraldo Alckmin (PSDB), em 2006, que venceu o primeiro turno no DF com 44% dos votos válidos. Lula teve 37%. Na última campanha, candidato ao Senado, Roriz ajudou Alckmin. Numa estratégia de pegar carona nas disputas regionais, o tucano participou de comícios ao lado de Roriz e da então governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB), que disputou a reeleição.

Num dos atos de campanha, em julho de 2006, Alckmin chegou a comparar Roriz ao ex-governador Mário Covas. Tive em São Paulo, como vice-governador, um bom professor, fui copiloto de um grande comandante: Mário Covas. Abadia, vice-governadora, é copiloto de um grande comandante: Joaquim Roriz, disse. Depois de eleito ao Senado, Roriz fez reuniões para buscar apoio a Alckmin no segundo turno. O tucano, porém, perdeu na onda da virada vermelha de Lula em todo o país.

Serra esteve em Brasília quatro vezes na campanha, mas não procurou Roriz. A aliança com o PSC foi costurada e avalizada pelo vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, mas nunca contou com o entusiasmo do candidato à Presidência da República. Ele sempre avaliou que a dobradinha com Roriz poderia até representar um avanço no eleitorado do DF, onde o ex-governador tem votos justamente no setor mais carente em que Serra perde para Lula e Dilma. Mas a aposta é de que a vinculação traria prejuízos para o candidato tucano no restante do país.

Roriz não esconde o clima ruim. Ele esteve quatro ou cinco vezes no Distrito Federal e não me telefonou. Eu preciso de voto, onde tem voto eu vou atrás, disse o ex-governador, ironizando a distância de Serra da campanha no DF. O ex-governador de São Paulo sempre manteve uma relação fria com Roriz. Em 1994, ele chegou a defender a eleição do então petista Cristovam Buarque contra o candidato apoiado por Roriz, Valmir Campelo (PTB). O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao contrário, manteve uma boa relação com Roriz.

Repercussões Em março último, Fernando Henrique(1) recebeu Roriz em sua casa em São Paulo, quando o ex-governador comunicou disposição de concorrer ao GDF, com o apoio do PSDB. O encontro provocou repercussões negativas, com discurso crítico do líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (AM), segundo o qual uma eventual aliança não contaria com o aval de Serra.

Em 2002, Serra e Roriz fizeram campanha juntos. Desta vez, no entanto, o candidato do PSDB não apareceu nenhuma vez sequer no programa eleitoral de rádio e televisão de Roriz. A única referência à candidatura presidencial ocorreu na última segunda-feira, quando a propaganda do ex-governador apresentou imagens do programa de Dilma em Brasília, numa provocação aos petistas do DF. O presidente regional do PSDB, Márcio Machado, afirma que trabalha para uma aproximação. O partido está agendando a vinda do Serra, contou, sem antecipar quando os dois poderão compatibilizar a programação de campanha.

Enquanto Roriz e Serra se estranham, Agnelo Queiroz (PT) faz tudo para associar a sua candidatura à de Dilma e de Lula. Logo no primeiro programa eleitoral, o presidente da República apareceu pedindo votos para o concorrente do PT no DF. O vice-presidente, José Alencar, gravou imagens para a propaganda de Agnelo e a primeira-dama, Marisa Letícia, fez uma peregrinação pelas ruas de Brasília, com o petista. Dilma também já foi em algumas cidades do DF acompanhada de Agnelo. O candidato do PV, Eduardo Brandão, por sua vez, tem buscado uma vinculação com a senadora Marina Silva (PV), no páreo pelo Palácio do Planalto. Serra está sem palanque na capital do país.

1 - Proximidade Em 2003, logo depois que Fernando Henrique deixou o poder, Roriz fez uma homenagem pública ao ex-presidente, a quem atribuiu o mérito pela criação do Fundo Constitucional do DF. Num leilão de cavalos Mangalarga Marchador, organizado em parceria com o então deputado Pedro Passos, Roriz presenteou uma das filhas de Fernando Henrique com um exemplar da raça.

O número FALTAM 37 dias Para o 1ºturno

Eleições locais*

1994 Luiz Inácio Lula da Silva (PT) 44,76% Fernando Henrique Cardoso (PSDB) 38,69%

1998 Fernando Henrique Cardoso (PSDB) 40,45% Luiz Inácio Lula da Silva (PT) 29,73%

2002 Luiz Inácio Lula da Silva (PT) 49% José Serra (PSDB) 16,75%

2006 Geraldo Alckmin (PSDB) 44% Luiz Inácio Lula da Silva (PT) 37%

* 1º turno