Título: Sem atrasos, Londres terá a sua Olimpíada dentro do orçamento
Autor: Spillane, Chris e Rossingh, Danielle
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2011, Especial, p. A16
Esporte : Governo, porém, teve de bancar a maior parte do gasto por não conseguir parceiros privados
Bloomberg
Estouros no orçamento, obras até a última hora e um legado de estádios obsoletos são sinônimos de Jogos Olímpicos tanto quanto os anéis coloridos de seu logotipo. Londres encaminha-se para quebrar essa corrente.
Os preparativos para a próxima Olimpíada estão dentro do prazo e orçamento, com 88% das obras concluídas um ano antes da cerimônia de abertura.
O custo de realização dos jogos pode ficar 16 milhões de libras esterlinas (US$ 26 milhões) abaixo dos 7,25 bilhões de libras previstos, segundo o Departamento de Cultura, Mídia e Esporte do Reino Unido informou este mês.
O governo mais do que triplicou seu orçamento original, depois de não ter conseguido empresas para financiar e desenvolver as instalações. Liderada por Sebastian Cole, corredor duas vezes premiado com medalha de ouro, Londres superou as candidaturas de Paris, Nova York e Moscou em julho de 2005, ao propor ao Comitê Olímpico Internacional (COI) a recuperação do leste de Londres.
Seis anos depois, ferrovias abandonadas, terrenos desocupados e empresas locais deram lugar a novos complexos esportivos, residências e ao maior shopping center urbano da Europa.
"Londres, de muitas formas, elevou o padrão e determinou alguns precedentes e referências para o futuro muito bons para os candidatos a Jogos [Olímpicos]", disse o professor de marketing esportivo Alan Seymour, na University of Northampton, no Reino Unido, em entrevista. "Definitivamente, é inédito" uma sede de Olimpíada estar quase pronta 12 meses antes, afirmou.
Somado ao custo da Paraolimpíada, Londres gastará cerca de 9,3 bilhões de libras com o evento, marcado para começar em 27 de julho de 2012. A China gastou US$ 70 bilhões nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, enquanto Atenas, em 2004, custou mais de US$ 11 bilhões.
As duas últimas Olimpíadas deixaram as cidades-sede com instalações subaproveitadas. Na China, as autoridades transformarão o emblemático estádio Ninho de Pássaro em um centro comercial e de entretenimento. Atenas conseguiu alugar apenas 6 das 22 instalações usadas nos Jogos Olímpicos, segundo o ex-ministro das Finanças George Papaconstantinou.
"É uma tragédia ir a uma cidade que recebeu os Jogos e encontrar instalações incrustadas lá sem ser usadas", disse Keith Mills, vice-presidente do comitê organizador do evento em Londres, o Locog, em entrevista. "Quando fomos e aprendemos as lições de Sydney e, em particular, Atenas, ficamos determinados em não cometer os mesmos erros aqui em Londres."
É importante mostrar a "seu governo e população que eles estão tendo um bom retorno para seu investimento e isso significa apenas gastar dinheiro no que se precisa gastar e não deixar para trás elefantes que o contribuinte tenha de financiar por muitos anos ainda por vir", disse Mills.
Para economizar, Londres está construindo instalações temporárias ou reaproveitando arenas, como a área de desfiles a cavalo Horse Guards" Parade, para o vôlei de praia, o Greenwich Park, para o hipismo, e o estádio de Wembley, para o futebol.
Londres estará pronta para os jogos seis meses antes do que Sydney estava para sua Olimpíada e isso dá á cidade "todas as chances" de superar o evento realizado há 11 anos, afirmou John Coates, presidente do Comitê Olímpico Australiano.
"Muitas pessoas dizem que Sydney continua a referência, mas de onde posso ver, Londres está seis meses a nossa frente em seus preparativos", disse Coates, ontem, em evento em Londres para marcar a contagem regressiva de um ano para os próximos Jogos Olímpicos.
O uso de instalações existentes permitiu a Londres concentrar-se no futuro pós-Olimpíada dos locais. Londres recebeu ofertas de interessados em ficar com o Estádio Olímpico, de 80 mil lugares. O vencedor foi o clube de futebol West Ham United, em proposta conjunta com o distrito de Newham. A oferta, que superou a do time Tottenham Hotspur, da primeira divisão inglesa, prometeu manter a pista ao redor do campo para receber competições de atletismo.
Em abril, o Tottenham Hotspur solicitou à Corte Suprema do Reino Unido para abrir um processo sobre o crédito que ajudará o West Ham a ficar com o estádio de 537 milhões de libras. O estádio terá o tamanho reduzido antes de ser usado para competições de futebol e atletismo.
"As pessoas precisam nos dar o crédito pelo fato de, um ano antes dos Jogos, termos um inquilino principal para o estádio e nós temos planos para transferi-lo", disse Margaret Ford, presidente da Olympic Park Legacy Company (OPLC), em entrevista.
Newham, onde ocorrerão as competições, é o sexto distrito mais carente da Inglaterra, entre mais de 350 avaliados pelo governo britânico.
O preço médio dos imóveis residenciais em Stratford, parte de Newham onde está o Estádio Olímpico, caiu 3,9%, para 226.008 libras no ano até julho, segundo a Zoopla.co.uk.
O comitê organizador da Olimpíada de Londres vem sendo criticado por grupos de defesa do consumidor no Reino Unido pela forma como está vendendo os 8,8 milhões de ingressos para a Olimpíada.
Apenas 700 mil pessoas tiveram sucesso na primeira rodada pública de vendas, com 1,2 milhão ficando sem nada. Outra rodada permitiu que alguns desses que perderam a primeira chance conseguissem entradas.
"Este sistema de ingressos olímpicos vem deixando muitos consumidores nos blocos de saída", disse Matt Bath, editor de tecnologia do grupo londrino de defesa dos consumidores Which?, em entrevista. "Muitas pessoas estão incrivelmente frustradas com todo o processo. Foi absolutamente obscuro e sem transparência."
Depois da segunda rodada de vendas, mais de 3,5 milhões de ingressos haviam sido vendidos, com cerca de 850 mil solicitações de ingressos bem-sucedidas, de acordo com os organizadores.
Apenas sobraram ingressos para o futebol, vôlei e luta. "Agora temos pelo menos mais 150 mil solicitações bem-sucedidas e eles e seus amigos e famílias agora estarão indo aos Jogos", disse o diretor comercial do Locog, Chris Townsend, em comunicado.
"Nosso objetivo é ter o máximo possível de membros do público britânico nos Jogos e vendermos mais de 750 mil entradas para pessoas que não conseguiram na primeira rodada."
A OPLC está encarregada de buscar operadores para todas as partes do Parque Olímpico, de 560 acres, para certificar-se de que o leste de Londres saia beneficiado após a Olimpíada. O local terá competições de natação, ciclismo, handball e basquete, além de também albergar os centros de imprensa e transmissões e o Estádio Olímpico, onde serão realizadas as cerimônias de abertura e encerramento e as provas de atletismo.
Os fortes cortes de gastos governamentais provocados pela pior situação da economia do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial não bloquearam os esforços para adaptar as novas arenas para outros usos após os Jogos Olímpicos, segundo Ford, da OPLC.
"Pode parecer ilógico, mas boa parte do trabalho que estamos fazendo não foi alterada pela crise financeira", afirmou. "O investimento não era apenas para os seis meses dos Jogos, mas para os próximos 30 anos do leste de Londres. Para cada libra usada no Parque Olímpico, 75 pence ficarão como legado. Portanto, toda a infraestrutura, a melhoria nos transportes, a remodelação dos terrenos, as instalações, todas essas coisas permanecerão no parque."