Título: Falta de produto coloca em risco operação das refinarias
Autor: Dezem, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2011, Empresas/Tendências e consumo, p. B4

De São Paulo

A elevação nos preços das terras-raras e a redução no fornecimento global desses minerais começam a gerar efeitos problemáticos em algumas cadeias produtivas do país.

A Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC), única fabricante no Brasil de catalisadores para o craqueamento do petróleo nas refinarias, já está sentindo os efeitos do cenário restritivo das terras-raras. "Hoje, o Brasil corre risco de abastecimento. Já não temos a oferta da matéria-prima à vontade", diz o coordenador de suplementos da FCC, Paulo Menezes.

A empresa - formada pela união entre a Petrobras (detentora de 50% do capital da FCC) e a americana Albermale Corporation - tem uma capacidade de produção de 45 mil toneladas de catalisadores por ano. Cerca de 90% de sua produção vai para as refinarias da Petrobras. Além de abastecer o mercado interno, ela é responsável por 80% dos catalisadores utilizados nas refinarias da Colômbia.

A matéria-prima utilizada em suas atividades - o óxido de lantânio - era comprada, há cerca de dois anos, de fornecedores chineses por US$ 5 o quilo. Hoje, o custo saltou para US$ 140. Por ano, a empresa consome uma média de 900 toneladas de óxido de lantânio. "E estamos muito preocupados com a situação em 2012, quando as exportações da China podem secar", explica o executivo.

O mercado espera que as cotas de exportação dos chineses possam ser reduzidas ao longo deste ano e do próximo. Isso pode fazer com que, ao fim de 2012, o consumo interno chinês esteja no mesmo patamar do volume produzido pelo país. "A matéria-prima é essencial. Se não tiver catalisador, o Brasil não tem como produzir gasolina", afirmou Menezes.

Diante desse contexto, a companhia tomou algumas iniciativas. Segundo Menezes, a FCC está realizando melhorias no processo produtivo, para reduzir as perdas da matéria-prima. Além disso, está negociando com as refinarias reduções da participação de terras-raras na produção do catalisador. "É possível fazer isso tecnicamente, mas pode haver impacto no rendimento do catalisador", afirma o executivo.

A empresa analisa também a utilização de compostos substitutos, mas ainda não chegou a nenhuma alternativa prática. "O caixa da companhia está sendo mais prejudicado do que a lucratividade. Temos hoje de pagar um valor alto para garantir abastecimento, mas o retorno é mais a longo prazo", explica Menezes. A FCC está procurando ainda diversificar sua produção. A empresa iniciou um projeto de construção de uma nova unidade para fabricar outro tipo de catalisador, que não depende das terras-raras, e é voltado para a produção de óleo diesel.

Além da cadeia de petróleo, a metalurgia voltada para o setor automobilístico, também está enfrentando dificuldades. A Ligas Gerais - que produz ligas de terras-raras para empresas de fundição que, por sua vez, abastecem as indústria de autopeças - não tem conseguido comprar matéria-prima da China. "A China está enviando para o Brasil o material já pronto, com valor agregado. Já pensei em parar de produzir e só revender o produto chinês", afirmou o diretor da empresa, Wellington de Lima. Ele afirma que seu estoque de liga de terras-raras acaba em cerca de 3 meses.

"O Brasil precisa investir; é questão de soberania", afirma Marcelo Tunes, diretor de assuntos minerais do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Procurada, a Petrobras não quis comentar o assunto. (VD)