Título: A última tarefa de Lula
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 30/08/2010, Política, p. 3

Certo da vitória de sua candidata, Dilma Rousseff, no próximo dia 3 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedica àquela que considera uma de suas últimas tarefas antes de passar a faixa presidencial: organizar a base política do futuro governo e evitar que Dilma se veja obrigada a atender todos os pedidos do poderoso PMDB que deve sair das urnas com a maior bancada na Câmara e no Senado. Àqueles aliados que Lula considera eleitos, ele tem discutido a ideia de formar um bloco parlamentar para aglutinar partidos que sempre foram ligados ao PT, caso do PSB, do PCdoB, por exemplo. O projeto de Lula é deixar todos em pé de igualdade para a formação da equipe de Dilma Rousseff, caso ela venha mesmo a ser eleita como prevêem todas as pesquisas eleitorais.

Nas conversas que mantém desde que Dilma ultrapassou o tucano José Serra nas pesquisas, Lula tem dito aos aliados que vocês agora têm que ajudar na política. A preocupação do presidente é que, diante de uma base tão grande e heterogênea, Dilma termine refém dos grupos do PMDB. Por isso, vem desde já, discretamente, ensaiando os movimentos que fará tão logo a eleição termine.

A proposta do bloco passou a ser discutida porque o presidente ainda não vislumbra clima político para fundar de pronto um novo partido capaz de abrigar o que seria a linha auxiliar ao PT. E, formado esse bloco, tanto na Câmara, quanto no Senado, a ordem é chamar o PMDB e dividir, primeiro, o comando das duas Casas Legislativas: se o PMDB ficar com a Câmara, o PT ficará com o Senado.

Depois, os cargos do governo.

Nessa ordem.

Ainda não está fechado quem fará parte desse novo nicho. Inicialmente, já estão escalados PSB e PCdoB e PDT. Paralelamente, a ordem é buscarumdiálogo com que os aliados chamam de PMDB mais saudável, isto é, mais republicano e que não demonstra tanta avidez pela ocupação de cargos. E, ao mesmotempo, por meio desse bloco, abrir uma avenida para conversar com a parcela do PSDB que governará estados importantes.

Paz Lula não vê a hora de estabelecer a paz política com os tucanos.

E acha que isso só será possível se desligar o trator Antes de terminar o mandato, o presidente quer organizar a base aliada para evitar deixar Dilma, caso eleita, refém do PMDB Candidatos a governador estão aptos a participar do processo eleitoral, sendo que 13 tiveram seus pedidos negados pelos TREs Territórios Os estados que o PT calcula que o PSDB pode vencer são Paraná e Minas Gerais. Pará, Goiás e São Paulo, que os tucanos contabilizam como promissores, ainda são, na opinião de Lula, territórios em disputa.

Esperança Os caciques do PMDB esperam eleger nas eleições de 3 de outubro 100 deputados e pelo menos 16 senadoreso partido, assim, entraria 2011 com 19 parlamentares no Senado.

Evaristo SA/AFP em alguns estados comoMinas Gerais. Pelo que Lula tem dito a aliados, ele não planeja investir todas as suas fichas na eleição de Hélio Costa ao governo mineiro.

Até porque, depois da última semana, em que a pesquisa Ibope demonstrou uma virada na eleição emMinas, as pessoas próximas ao presidente o aconselharam a não entrar muito por lá.

Assim, Lula sempre poderá dizer que, indiretamente, ajudou o governador mineiro e, assim, ter um Aécio grato, capaz de dar uma força para a abertura desse diálogo, especialmente, no primeiro ano de governo. Para completar, no caso do Senado, os lulistas acham muito difícil reverter a eleição em favor do PT. Por isso, entre Minas e São Paulo, a prioridade das conversas do partido com o presidente tem sido no sentido de buscar o segundo turno no território paulista.