Título: Brasil mudou perfil, mas tem desafio da desindexação
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2011, Finanças, p. C8

De São Paulo

O Banco Mundial apresentou no G-20 o Brasil como um exemplo notável de transformação do perfil da dívida, redução na vulnerabilidade a choques e desenvolvimento de liquidez no mercado local de títulos. Advertiu, porém, que há desafios a superar, como a desindexação de investimentos, a exemplo dos fundos mútuos, que rodam aos juros de overnight. Além disso, ainda é necessário avançar em reformas para dar condições para financiamentos de mais longo prazo para o setor privado brasileiro.

Para o banco, a experiência brasileira demonstra o vínculo entre a sólida base macroeconômica e o espaço para melhoras no mercado de títulos da dívida local. O mercado brasileiro já é o maior em volume negociado entre os emergentes. Seu vibrante mercado de papéis indexados à inflação representa hoje o quinto maior no mundo, logo após de Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Itália.

O Banco Mundial considera que tal evolução foi resultado da crescente profissionalização da gestão da dívida. No rastro das crises financeiras, no fim de 1990, houve progressos no desenvolvimento de mercados de títulos em moedas locais em países em desenvolvimento, crescendo de US$ 1,4 trilhão em 1997 para US$ 6,5 trilhões em 2007. Os países da Ásia representam 55,4% do valor total desses mercados, mas a América Latina tem mostrado o mais forte desenvolvimento com sua fatia de títulos locais aumentando de 51% em 2001 para 72% em 2008.A percepção é de que a diversificação de investidores, com fundos mútuos detendo 25% dos títulos públicos e fundos de pensão 14%, está por trás da capacidade de absorção local. Também é central um mercado de derivativos dinâmico em taxas de juros, que permite a participantes como bancos (detendo 31% dos papéis) a fazer "hedge" de exposição nos desalinhamentos dos juros.

A crescente participação do investidor estrangeiro, que passou de 1% para 11% entre 2005-2010, ou seja, de US$ 3,5 bilhões para US$ 109,2 bilhões, também melhorou a liquidez e demanda por instrumentos em moda local.

A participação estrangeira é maior nos mercados do Egito, com 12,4%, Turquia com 12,5% e da África do Sul com fatia de 22%, mas em termos de volume não tem comparação com o Brasil. (AM)