Título: Corte acelerado é certo, caso previsão se confirme'
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2011, Finanças, p. C10

A acelerada moderação da atividade do país balizou a decisão do Banco Central (BC), avalia Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse. Segundo ele, o comunicado que se seguiu à reunião do Copom também sugere grande convicção da autoridade monetária sobre os riscos vindos do mercado internacional. Caso se confirme o cenário do BC, Teixeira julga que a resposta da autoridade foi apropriada. Nesse caso, o mais adequado seria fazer uma redução de juros de uma forma acelerada, e de magnitude importante. Até por isso, ele acredita em forte queda dos juros, de 400 pontos até janeiro do próximo ano. Segundo ele, o PIB do terceiro trimestre já deve mostrar retração, em torno de 0,3%, que se somará aos efeitos da crise que o BC espera.

Valor: Qual a sua avaliação sobre a decisão do Copom?

Nilson Teixeira: Quando se lê o comunicado - e por sinal o BC foi na direção correta ao publicar, espero que se torne uma tradição da instituição, uma avaliação mais clara sobre a sua leitura - não há dúvidas sobre por que o BC cortou os juros e sobre a sua leitura da atividade econômica do Brasil desacelerando. A expectativa da autoridade monetária é de que haverá uma intensificação dessa desaceleração. Me parece que ele está sinalizando que o cenário global e essa desaceleração da atividade levarão a uma inflação ainda menor do que a autoridade monetária tinha previsto.

Valor: O corte foi muito forte?

Teixeira: Ninguém esperava um corte de 50 pontos. Mesmo a maioria dos nossos clientes que tinha posição [contratos de juros futuros] em um corte de 25 pontos dizia que achava pouco provável. Quando a autoridade monetária vem com [um corte de] 50, sinaliza o seguinte: há riscos importantes de que a desaceleração da atividade seja bem mais expressiva do que os analistas estavam esperando e que o próprio BC achava há um mês. E isso exige corte de juros.

Valor: Quando o BC surpreende o mercado, também emite um sinal?

Teixeira: A mensagem me parece clara: não dá para ficar esperando tanto, como foi feito em 2009, e vamos acelerar o processo de corte. Agora, até outubro muita coisa pode acontecer, porque a incerteza sobre os desdobramentos na Europa e nos Estados Unidos é muito grande, consequentemente os impactos aqui são muito incertos.

Valor: O BC fará novos cortes?

Teixeira: O que está acontecendo aqui também é muito incerto nesse contexto. Em caminhando para o cenário da autoridade monetária, nós julgamos que a resposta é apropriada. E indo para o cenário que nos parece que está no cenário da autoridade monetária, o mais apropriado é fazer uma redução de juros de uma forma acelerada e de magnitude importante. Em 2008 e 2009 já falávamos a mesma coisa, que o adequado, dadas as incertezas existentes, era que o corte deveria ser até em uma velocidade maior do que foi. Hoje ficamos do mesmo lado. Prevemos um corte de 400 pontos base, com 150 pontos em outubro.

Valor: Já há desaceleração na economia brasileira?

Teixeira: Esperamos um crescimento de 2,9% para o Brasil, que na média seria mais ou menos igual a não crescer nada no terceiro e no quarto trimestres. Ou seja, não importa qual seja a métrica que você usa, está crescendo menos do que o potencial. Consequentemente, eu entendo que a autoridade monetária julga que a desaceleração da atividade contribuirá para reduzir a inflação.

Valor: Qual será o comportamento da inflação?

Teixeira: Temos uma expectativa de que a inflação permanecerá elevada por mais tempo. Tem um caráter de persistência muita expressivo e alguns mecanismos de indexação que não vão ser desmontados, ao contrário, tendem a ter impacto até maior por conta, por exemplo, do salário mínimo. Mas se ocorrer um cenário em que os preços de commodities recuem um pouco e que a atividade de fato desacelere de forma expressiva, isso tende a ajudar a inflação a ser um pouco melhor do que a expectativa.