Título: Presidente pede a ministro que substitutos tenham perfil técnico
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 21/07/2011, Política, p. A7

Decidida a estancar a crise que envolve o Ministério dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff deu duas missões ao ministro Paulo Passos: dar um perfil técnico à Pasta e garantir que a área passe a apresentar melhores resultados de gestão e execução de obras.

Não bastassem as denúncias de irregularidades envolvendo parte da antiga cúpula do ministério, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec, o Palácio do Planalto concluiu que a administração capitaneada por Alfredo Nascimento não vinha entregando as obras dentro dos prazos e preços esperados pelo governo.

Para garantir que suas demandas sejam atendidas, Dilma destacou a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, para monitorar os trabalhos do Ministério dos Transportes. A ministra é a responsável pela gerência do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Dilma quer também que o setor passe a ter um perfil técnico. Num movimento que tenta afastar a crise do Palácio do Planalto, delegou a Paulo Passos a missão de selecionar os nomes que darão uma nova cara ao ministério, ao Dnit e à Valec.

Deu carta-branca para o subordinado ignorar eventuais pressões vindas do PR e do PT, mas quer que as nomeações coloquem um ponto final à crise. Ou seja: os indicados precisarão ter currículo e histórico à prova de denúncias.

Até agora, Paulo Sérgio Passos não consultou o PR sobre a reformulação em andamento da área. Filiado ao partido desde 2006, Passos ocupou diversos cargos de direção no ministério nos últimos anos e substituiu Alfredo Nascimento após as revelações de irregularidades na pasta. O líder do PR na Câmara, deputado Lincoln Portela (MG), assegurou que o partido não tem participado dos debates sobre a reforma do Ministério dos Transportes e suas autarquias.

"Não tem nenhuma conversa com ele (ministro). Deixamos a presidente muito à vontade para nomear quem quiser", comentou o parlamentar, acrescentando que os servidores exonerados deveriam ter o direito à ampla defesa. "Não estamos em Cuba ou na Venezuela."

Até agora, 15 funcionários do Ministério dos Transportes, Dnit e Valec perderam seus cargos desde que foram reveladas irregularidades nesses órgãos. A limpa continuará. E deve abarcar inclusive as direções do Dnit nos Estados, as quais também foram loteadas entre os partidos políticos.

Durante a campanha eleitoral, no ano passado, Dilma Rousseff afirmava que aceitaria a indicação dos partidos políticos para o preenchimento dos cargos da máquina pública, desde que respeitados critérios técnicos. Nos últimos dias, o discurso voltou a ser defendido no Palácio do Planalto. Auxiliares de Dilma têm dito que a "faxina" em andamento no Ministério dos Transportes não alcançará necessariamente todos os servidores filiados a partidos políticos, mas apenas aqueles que estiverem sob suspeita.