Título: Filiação de prefeito é a mais difícil para o PSD
Autor: Klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2011, Política, p. A6

De São Paulo

No dia 21 de março, quando o PSD foi lançado oficialmente na Assembleia Legislativa de São Paulo, o prefeito de Mogi das Cruzes (DEM), Marco Aurélio Bertaiolli, pontuava na cerimônia como um dos expoentes da nova sigla. Ao explicar sua intenção de trocar de partido, dizia que se tratava de uma questão de lealdade ao grupo do prefeito Gilberto Kassab e do vice-governador Guilherme Afif Domingos, formado desde a campanha presidencial de Afif, em 1989.

No entanto, às vésperas da obtenção do registro definitivo da nova legenda no TSE, Bertaiolli reforça outro grupo: o de prefeitos que refugaram e não cerrarão fileiras no PSD. "O grupo continua, mas estou trabalhando agora pela cidade", esquiva-se.

A desistência de Bertaiolli - político próximo a Kassab e Afif - é o sintoma da maior dificuldade de recrutamento do PSD até agora.

A sigla pode nascer como a quarta maior bancada da Câmara dos Deputados, mas não vem recebendo a adesão de prefeitos na mesma proporção. É justamente um dos cargos prioritários, já que o primeiro teste do partido nas urnas serão as eleições municipais do ano que vem.

O PSD conta hoje com a filiação de 48 deputados federais, 100 estaduais, dois governadores, seis vice-governadores, dois senadores, mas ainda não divulga a quantidade de prefeitos que devem rumar para o partido.

Nesta semana, o secretário-geral da legenda, Saulo Queiroz, emitiu uma circular para todos os presidentes estaduais na qual aponta a filiação de prefeitos, de preferência com direito à reeleição, como tarefa fundamental a ser executada. "É um enfoque vital, precisamos filiar quem pretende concorrer no ano que vem", afirma.

Além de Bertaiolli, outras desistências anunciadas vêm de São Paulo, berço do PSD. É o caso da prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Veras, e de Júnior Filippo, de Guaratinguetá, ambos do DEM.

Um fator crucial para a permanência dos prefeitos seria o medo de perder os investimentos estaduais em seus municípios e ver suas chances eleitorais reduzidas. O contra-ataque do governador Geraldo Alckmin (PSDB), desafeto de Kassab, parece ter surtido efeito. Em Mogi das Cruzes, por exemplo, Bertaiolli é beneficiário de uma série de programas e investimentos do governo do Estado como o Bom Prato, a Etec, a Fatec e a expansão do Expresso Leste da capital para a região.

Outro motivo importante - e mais geral, que preocupa prefeitos país afora - é a escassez de recursos políticos do novo partido, como o pouco tempo a que terá direito no horário eleitoral gratuito.

Para Saulo Queiroz, o número de adesões ao PSD aumentará depois que o partido conseguir o registro definitivo no TSE. A expectativa é que isso ocorra entre os dias 15 e 20. "A notícia boa é que, de uma semana para cá, o medo acabou", afirma. Saulo Queiroz refere-se a uma maior segurança jurídica esperada pelos prefeitos, depois que o PSD obteve o registro nos Tribunais Regionais Eleitorais de, pelo menos, nove Estados - mínimo exigido por lei.

O secretário-geral espera uma corrida de filiações nos cerca de 20 dias entre a liberação do registro pelo TSE e o fim do prazo para mudança de partido - até um ano antes da eleição, em 6 de outubro.

A expectativa é que o PSD tenha de 1,3 mil a 1,4 mil candidatos a prefeito e que, destes, entre 600 e 700 se elejam. A taxa de sucesso, argumenta Saulo, deve ser a mesma de PMDB e PSDB, que gira em torno de 40% a 45%. "Nosso estilo é o mesmo que destes partidos", justifica.

Das 26 capitais, o PSD pode concorrer com candidato próprio em menos da metade, afirma. Até agora, porém, apenas em quatro há nomes mais consolidados: o secretário estadual de Turismo, Cultura e Esporte, Cesar Souza Júnior, em Florianópolis; o deputado federal Vinícius Gurgel, em Macapá; o deputado estadual licenciado e secretário de Infraestrutura do Maranhão, Max Barros, em São Luís; e os deputados federais Armando Vergílio ou Vilmar Rocha, em Goiânia.