Título: Obama conta com emprego para estimular a economia
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Fonte: Valor Econômico, 13/09/2011, Opinião, p. A14

Enquanto a Europa patina no imobilismo, os Estados Unidos lançaram um plano para incentivar a criação de empregos e estimular a economia americana, a verdadeira locomotiva do planeta.

O novo plano do presidente Barack Obama, chamado de Lei dos Empregos Americanos, envolve US$ 447 bilhões, quase a metade do primeiro pacote de estímulo fiscal lançado logo depois que assumiu a presidência, no início de 2009, foi enviado ao Congresso americano ontem. Obama procurou vencer a esperada resistência dos republicanos ao mesclar novos gastos com corte de impostos e prometer cortar a dívida pública em mais US$ 1,5 trilhão, além dos US$ 2,2 trilhões acertados por ocasião do difícil acordo em torno da elevação do teto do endividamento público, em agosto.

Embora não se saiba se o pacote será integralmente aprovado pela oposição republicana que domina a Câmara dos Deputados, há várias avaliações de que ele pode produzir algum resultado, embora não cheguem a números iguais. A assessoria econômica do senador republicano John McCain, rival de Obama na eleição de 2008, estima que o plano pode reduzir a taxa de desemprego nos Estados Unidos em 2 pontos percentuais em um ano e criar 2,9 milhões de postos de trabalho. A Macroeconomic Advisors, que presta consultoria ao Federal Reserve (Fed, banco central americano), avalia que o plano vai criar 1,3 milhão de empregos no primeiro ano e mais 800 mil no segundo, além de aumentar o crescimento econômico em 1,3 ponto percentual em 2012. A Moody"s tem outros números, igualmente favoráveis, com a perspectiva de criação de 1,9 milhão de postos de trabalho, a redução do desemprego em 1 ponto e a ampliação do crescimento econômico em 2 pontos percentuais em 2012.

O elevado índice de desemprego é um problema sério na reativação da economia americana, uma vez que o consumo representa 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Depois de uma pequena melhora em 2010, o PIB dos EUA está desacelerando.

Nem o emprego nem a economia reagiram significativamente ao pacote fiscal do início do governo Obama e à política monetária frouxa do Fed - desde dezembro de 2008, os juros estão perto de zero e já foram implementados dois programas de afrouxamento monetário (o "quantitative easing", QE), com a recompra de títulos em circulação no mercado, que ampliaram o balanço do banco central de US$ 869 bilhões para cerca de US$ 2 trilhões.

A taxa de desemprego nos Estados Unidos, que era de 4,5% no início da crise, atingiu os 11% entre 2007 e 2009, o patamar mais elevado desde a década de 80, quando chegou a 16%. Em maio de 2010 caiu para 10% e, neste ano, está ao redor de 9%, tendo registrado 9,1% em agosto. Isso significa 14 milhões de desempregados em uma força de trabalho de 153,6 milhões de pessoas. Estão sem trabalho há mais de 27 semanas, ou seja, meio ano, 6 milhões de pessoas. Quem conseguiu nova colocação teve que aceitar uma remuneração, em média, 17,5% menor.

Não só a perspectiva de perder o emprego e ter a renda reduzida diminuiu o consumo, mas também o alto endividamento do americano, pendurado em hipotecas de longo prazo. Por isso, o plano de Obama inclui a determinação que as agências Fannie Mae e Freddie Mac estudem como os endividados podem refinanciar seus contratos pelas taxas baixas atuais.

Nem tudo está garantido. O pacote de Obama pode não ser totalmente aprovado pelo Congresso americano, já contagiado pela disputa presidencial de 2012. Além disso, nem todos são otimistas. Há quem diga que taxa de desemprego pode não cair porque a perspectiva de criação de novos postos de trabalho deve atrair os 2,6 milhões de pessoas que desistiram de procurar emprego.

A análise mais preocupante é a de Michael Spence, prêmio Nobel de 2001. Em artigo publicado em junho no "Wall Street Journal", Spence disse que o desemprego nos Estados Unidos é estrutural e exige uma resposta estrutural. Segundo Spence, nas duas décadas antes da crise foram criados 27 milhões de postos de trabalho nos EUA em áreas como serviços públicos de saúde, construção e varejo, voltados a atender o consumidor doméstico, que foi especialmente afetado. Perdeu espaço o emprego nos setores de bens e serviços exportáveis, como financeiro, consultoria e tecnologia e outros mais tradicionais. Por isso, diz ele, qualquer pacote de estímulo deve ser abrangente e incluir estímulo ao investimento, tecnologia e à competitividade do produto americano. Ou seja, a solução é complexa.