Título: Socorro à Grécia ameaça 'fazer água'
Autor: Spiegel, Peter; Hope, Kerin
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2011, Finanças, p. C10

Financial Times, de Bruxelas e Atenas

O segundo pacote de socorro da Grécia parece ameaçado. Desde o dia em que foi firmado, no fim de julho, o pacote de ¿ 109 bilhões - o segundo socorro internacional em 15 meses - parecia malfadado. Foi de longe o resgate mais complicado de um país da zona do euro e até mesmo os funcionários dos ministérios das finanças do bloco que o assinaram tiveram dificuldades para explicar com o que exatamente concordaram.

Decorridos menos de dois meses quase todas as partes do novo pacote - além do socorro anterior de ¿ 110 bilhões de maio - estão à beira do colapso. A economia grega está em uma espiral de queda, os detentores de bônus estão indignados e os eleitores dos países credores da Europa invocam seus líderes a se livrar da Grécia. "Não pode haver mais tabu", disse no fim de semana o ministro da Economia da Alemanha Philipp Rösler. "Isso inclui, se necessário, uma falência ordeira da Grécia."

Um problema fundamental é que a elaboração do pacote de julho foi falha, representando uma ameaça à sua sobrevivência, segundo Sony Kapoor, diretor da consultoria econômica Re-Define. "Acredito que bom senso suficiente e vontade política podem ser alcançados para que o colapso do acordo não seja iminente, mas estou menos confiante em relação às perspectivas para o fim deste ano."

Ao contrário do resgate anterior, e os planos similares elaborados para Irlanda e Portugal, o acordo de julho contém mais que os tradicionais empréstimos a juros baixos que possibilitam a um país em dificuldades pagar suas contas por três anos enquanto a economia é reestruturada. Em parte por causa da crescente oposição política no norte do continente, os líderes europeus prometeram encontrar novas maneiras de ajudar a Grécia sem contar com a ajuda de seus próprios contribuintes.

Atenas foi forçada a entrar em um programa de privatização de ¿50 bilhões, cujos recursos serão usados como parte do pacote. Uma série complexa de swaps de bônus e rolagens serão oferecidos aos atuais detentores de dívida, um processo que as autoridades acreditam que poderá adiar o pagamento de ¿ 135 bilhões em dívidas por até 30 anos.

Mas todos esses elementos, além dos tradicionais empréstimos de resgate, foram baseados em uma série de suposições que começam a parecer otimistas demais. O total de ¿ 109 bilhões, que foi reconhecido como apenas uma estimativa no dia em que foi acertado, poderá ter de ser revisto para cima. "Acho que teremos que montar um novo pacote para a Grécia", diz Guntram Wolff do instituto de pesquisas Bruegel de Bruxelas.

De fato, o valor de ¿ 109 bilhões é de certa forma equivocado. Todo ele terá de ser levantado por instituições financeiras internacionais, mas apenas cerca de um terço (¿ 34 bilhões) irá para Atenas na forma de empréstimos para atender às necessidades de financiamento do governo. Mais da metade será usada para fornecer apoio às complicadas recompras de bônus, swaps e rolagens. Conforme observado por mais de uma autoridade, muito dinheiro público será necessário para assegurar que os detentores privados de bônus arquem com parte do ônus do socorro.

Para entender melhor as necessidades da Grécia e por que o segundo pacote de resgate está ameaçado, é mais ilustrativo olhar para o montante da ajuda que Atenas precisa para conduzir suas operações do dia-a-dia pelos próximos três anos: ¿ 172 bilhões. Alguém - os contribuintes gregos, bancos internacionais ou investidores privados - terá que surgir com dinheiro suficiente para preencher esse rombo, caso contrário a Grécia embarcará em um default potencialmente desorganizado.

Embora ¿ 172 bilhões pareça uma soma enorme, na verdade já pode ser pequena demais. Desde que os economistas da União Europeia fizeram a estimativa em julho, Atenas foi forçada a admitir que sua economia está encolhendo mais rapidamente que o esperado. No domingo, o governo disse que o PIB deverá cair 5,3% este ano; bancos internacionais estimam o crescimento em menos de 4%.

As receitas fiscais, já magras, devem diminuir mais. Sem levar isso em consideração, quando o acordo de julho foi firmado, as autoridades acreditavam que poderiam tapar o rombo de ¿ 172 bilhões com recursos oriundos de quatro fontes: o dinheiro restante do primeiro pacote de ajuda à Grécia; novos empréstimos do segundo pacote de resgate; o programa de privatização; e os swaps e rolagens de bônus. Todas as quatro fontes parecem ameaçadas. Se qualquer uma delas não der certo, o socorro terá de ser reconstruído - ou a Grécia poderá entrar em default.