Título: Indústria começa segunda metade do ano em ritmo fraco
Autor: Lamucci ,Sergio
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2011, Brasil, p. A4

A indústria entrou na segunda metade do ano num ritmo decepcionante, depois de um segundo trimestre que já havia sido fraco, de acordo com o Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) do HSBC. Em julho, o indicador ficou em 47,8 pontos, abaixo dos 49 registrados em junho, atingindo o nível mais baixo em 26 meses, na série com ajuste sazonal. Segundo a pesquisa, que é realizada pela consultoria Markit Economics, a produção recuou com força em julho em reação à queda expressiva das novas encomendas. Quando o indicador está acima de 50, a interpretação é de expansão da atividade; abaixo de 50, a leitura é de contração.

O PMI é mais um indicador a apontar para um desempenho pouco animador para o segmento - na sexta-feira, a Sondagem da Indústria de Transformação Fundação Getulio Vargas (FGV) também retratou uma piora significativa das condições do setor. A confiança do empresário caiu em julho pela sétima vez consecutiva, os estoques aumentaram, a intenção de fazer novas contratações despencou e o nível de utilização de capacidade instalada teve queda.

Indicador acompanhado cada vez com mais atenção pelos analistas, o PMI tem o objetivo de funcionar como um termômetro da atividade da indústria. Ele se baseia numa pesquisa mensal com executivos de cerca de 400 empresas, que respondem sobre itens como produção, encomendas, emprego, pedidos de exportação, estoques e preços de bens finais e de insumos. Segundo o relatório do HSBC, o PMI de julho mostrou uma contração adicional da indústria, refletindo em grande parte "os níveis mais baixos de produção, de volume de novos pedidos e de empregos".O componente do PMI relativo a novos pedidos recuou de 47,2 pontos em junho para 45,9 pontos em julho. Desde fevereiro, houve uma queda de 19,6%. "De um modo geral, os entrevistados atribuíram a redução na entrada de novas encomendas ao enfraquecimento da demanda global e às condições frágeis do mercado", diz o relatório. Outro ponto relevante é que várias empresas indicaram que a taxa de câmbio "desfavorável" também contribuiu para uma redução de pedidos de exportação. Não por acaso, o componente do PMI que retrata novas encomendas para exportação ficou pela quarta vez abaixo de 50, em 47,4 pontos. O indicador do HSBC também apontou aumento do estoque de bens finais, que cresceram pelo quinto mês seguido.

A Sondagem da FGV também mostrou um quadro ruim para a indústria em julho, com as expectativas em relação aos próximos meses exibindo uma forte deterioração. Foi o principal fator a derrubar o índice de confiança para 105 pontos, o menor desde setembro de 2009, na série com ajuste sazonal. A fatia de empresas que preveem aumento da produção nos próximos três meses recuou de 38,6% em julho para 37,1%, ao passo em que cresceu de 11,8% para 15,3% o percentual de companhias que projetam redução.

Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, "o segmento industrial está desacelerando de fato", dado o impacto dos juros em alta e do efeito desfavorável do câmbio valorizado, que tem aberto espaço para uma forte competição dos importados. Ele acredita, contudo, que a perda de fôlego é moderada, citando o comportamento do nível de utilização de capacidade instalada, que caiu de 84,3% em junho para 84,1% em julho, na série com ajuste sazonal. Os 84,1% de julho ainda estão acima da média histórica, de 83,3%, embora estejam razoavelmente abaixo do recorde de 86,7%, atingido em junho de 2008.

As respostas sobre estoques, por sua vez, mostram um acúmulo de inventários indesejados em julho. "A proporção de empresas com estoques excessivos na indústria continua com viés de alta, passando de 5,3% em junho para 6,6% em julho", diz Velho, notando que a fatia das que relatam inventários insuficientes caiu de 3,3% para 2,2%.

A forte queda na intenção de fazer novas contratações nos próximos três meses é outro ponto que evidencia a piora da situação da indústria. O percentual de empresas que planeja aumentar o quadro de funcionários recuou de 30,2% em junho para 23,7% em julho, o menor número desde agosto de 2009.

O PMI e a sondagem da FGV também haviam retratado um quadro ruim para a indústria em junho, que, segundo analistas, tende a ser corroborado pelo resultado da produção industrial do IBGE, a ser divulgado amanhã.

O economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, estima que houve recuo de 0,5% em relação a maio, feito o ajuste sazonal. Ele observa que o nível de produção da indústria ainda está próximo do vigente no período anterior ao agravamento da crise global, em setembro de 2008. Ramos projeta crescimento de 3% para a produção industrial neste ano, mas diz que reduzirá a sua expectativa para 2,5%, se a sua estimativa para o número de junho estiver correta, assim como a sua aposta em um julho também fraco. "No começo do ano, eu esperava de 3,5% a 4%."