Título: Rejeição ao casamento gay chega a 77% entre evangélicos
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2011, Política, p. A6

A atuação da bancada evangélica, que este ano ajudou a impedir a criminalização do preconceito contra a diversidade sexual e a entrega do kit anti-homofobia, tem respaldo dos seus eleitores, mostra pesquisa do Ibope com dois mil entrevistados entre os dias 14 e 18 de julho. Entre os seguidores desta religião, 77% são contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu a união estável de homossexuais.

A resistência é bem maior do que nos brasileiros em geral, que, entretanto, na sua maioria também não são favoráveis a decisão - 55% não concordam com o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os praticantes de outras religiões são mais tolerantes com o tema: 50% dos católicos, 51% dos ateus e sem religião e 60% dos adeptos de outras crenças aceitam a união. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

Para o senador Magno Malta (PR-ES), isso mostra que a sociedade não é favorável ao tema. "Agora fica provado que não é coisa dos evangélicos e outros religiosos. É uma doutrina da família brasileira", afirmou o parlamentar, que é pastor e cantor gospel.A antiga bancada evangélica, que tinha mais de 70 integrantes no Congresso na atual legislatura, deu lugar à Frente Parlamentar em Defesa da Família Brasileira, com apoio de 472 dos 513 deputados e de 75 dos 81 senadores, segundo Malta, que é seu presidente. "Banalizaram a palavra homofobia. Uma coisa é matar e destruir, a outra é manifestar posição contrária. A frente da família não vai deixar que acabem com esse direito", disse.

A pesquisa mostra que outros assuntos de interesse do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) também sofrem com a resistência dos brasileiros, em especial dos religiosos, como a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, autorizada no ano passado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Entre os católicos, 51% concordam com a adoção de filhos por homossexuais. Já entre os evangélicos, a aceitação cai para 22% dos entrevistados, assim como ocorreu com a avaliação deles sobre a união homoafetiva. "Se os evangélicos rejeitam é porque acreditam nos princípios bíblicos. Deus criou macho e fêmea. Não existe um terceiro sexo", disse Malta.

A postura fica um pouco mais positiva caso o melhor amigo do entrevistado se revelasse homossexual. 73% da população não se afastaria nada dele, embora outros 14% se distanciaram um pouco e outros 10% ficariam muito mais afastados - 2% não souberam ou quiseram responder.

Os seguidores de outras religiões são os mais compreensivos com a situação: só 10% perderiam parte do contato nesse caso, contra 23% dos católicos e 29% dos evangélicos, que teriam algum tipo de afastamento.

Segundo a pesquisa do Ibope, as pessoas menos incomodadas com as questões envolvendo os homossexuais são as mulheres, os mais jovens, os mais escolarizados e as classes mais altas. Norte, Centro-Oeste e Nordeste são as regiões do país com maior resistência ao tema.

Há também restrições sobre a profissão que eles exercem, segundo o estudo. 14% dos brasileiros não se sentem confortáveis com médicos homossexuais - no caso dos evangélicos, o número sobe para 19%, e entre os ateus é de 18%. Policiais e professores de ensino fundamental gays ou lésbicas também são mal vistos por 24% dos brasileiros e ateus, 30% dos evangélicos e 22% dos católicos.