Título: Este ano é pior que aquele que passou
Autor: Sassine, Vinicius; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2010, Brasil, p. 8

De janeiro a agosto, o Inpe registrou em todo o país 12,2 mil focos de incêndio, quantidade superior à registrada nos 12 meses de 2009. Terras indígenas e assentamentos rurais foram as áreas que mais sofreram

As queimadas consideradas críticas neste ano já são superiores às registradas em todo o ano passado e devem continuar a destruir as unidades de conservação administradas pelo governo federal. De janeiro a agosto, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registraram 12,2 mil focos de calor nessas unidades, enquanto em todo o ano de 2009 a quantidade não chegou a 9 mil. O problema está mais grave no Centro-Oeste e no Norte. Nessas regiões, algumas cidades próximas às áreas de proteção ambiental não têm estrutura para combater um grande incêndio, como na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, por exemplo.

Os registros nos dois últimos anos são inferiores às queimadas detectadas nos anos anteriores em 2007, foram mais de 37 mil focos nas unidades de conservação. Mas em nenhum mês de agosto como o deste ano foram registrados tantos incêndios em terras indígenas e assentamentos rurais, como reconheceu ontem a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Os dados divulgados pelo ministério mostram que, no mês passado, foram registrados 259,9 mil focos. De cada 10, três foram detectados em terras indígenas, assentamentos e unidades de conservação.

As aldeias indígenas respondem por 13% dos focos de agosto, 12% estão em unidades de conservação e 8%, em assentamentos rurais. O avanço das queimadas motivou um reforço extra no combate ao fogo. Mais brigadistas estão sendo treinados para atuar no combate aos incêndios nos parques federais e nas comunidades. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) decidiu ressarcir as famílias que perderam casas e produção agrícola por causa do fogo, nos assentamentos.

Porém, ao percorrer vários municípios ameaçados pelos incêndios, o Correio constatou que não há unidades do Corpo de Bombeiros ou brigadistas em cidades como em São João DAliança, Alto Paraíso, São Jorge, Água Fria e Campo Belo, próximas à Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Quando há um incêndio, nós é que somos chamados, afirma o sargento da Polícia Militar, João do Carmo Nunes. Seja em que cidade for, já que nenhuma delas tem Corpo de Bombeiros, acrescenta. Na região, onde não chove há 60 dias, vários focos de incêndio foram detectados nos últimos meses.

Outro problema grave é o do Parque Nacional das Emas, no sudoeste de Goiás. Segundo dados oficiais do ministério, 90% do área foram destruídos por incêndios. A unidade, que tem uma rica biodiversidade de cerrado, pode ter sido devastada numa escala ainda maior. Entidades ambientalistas que atuam na região estimam que o fogo consumiu 98% do parque. Em São João DAliança, animais estão morrendo por causa do fogo. Na Fazenda Jatobá, dezenas de siriemas estão ameaçadas diante das queimadas, que muitas vezes deixam os animais encurralados e que, desorientados, fogem para o meio do mato em chamas.

Em relação ao Parque Nacional das Emas, a ministra Izabella Teixeira eximiu o governo de culpa e disse que as queimadas foram criminosas. As imagens de satélite mostram que o fogo veio de fora para dentro. Uma perícia está sendo feita para identificar e punir os culpados, afirmou. Praticamente todos os anos há queimadas no Parque das Emas, nunca na dimensão deste mês de agosto. Em apenas dois dias, quase toda a vegetação virou cinzas.

A unidade de conservação mais destruída até agora foi o Parque Nacional do Araguaia (TO). Quase cinco mil focos de calor consumiram a vegetação de metade do parque. Outras duas áreas do Tocantins, duas do Pará e uma em Minas Gerais a Serra da Canastra, onde o fogo já teria sido controlado estão entre as mais destruídas. Até ontem, 85 unidades de conservação tiveram parte de suas áreas destruída por queimadas.

No caso das terras indígenas, o fogo prejudica pelo menos 24 mil pessoas, que vivem em aldeias em Tocantins, Mato Grosso, Amazonas, Maranhão e Pará. Sete territórios indígenas são considerados áreas críticas, assim como 65 unidades de conservação estaduais e federais e 36 cidades. Em apenas nove delas o fogo está controlado ou foi extinto. Dez estados concentram 90% dos focos de calor. Os casos mais graves são verificados em Mato Grosso, Pará, Tocantins, Maranhão e Rondônia.