Título: O declínio do Império Americano
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2011, Eu e investimentos, p. D1

Enquanto mercados derretem e fundos perdem, gestores e investidores aproveitam as pechinchas.

Angelo Pavini, Daniele Camba, Luciana Monteiro e Silvia Rosa | De São Paulo

No dia mais nervoso para os mercados mundiais desde a crise de 2008, os investidores se dividiram entre os que contabilizaram perdas e os que aproveitaram para ir às compras em meio à queda de 8,09% do Índice Bovespa, para 48.668 pontos. No primeiro grupo, estão fundos e investidores que compraram além dos limites e tiveram de reduzir as aplicações por exigência da bolsa, das corretoras ou dos setores de controle de riscos das próprias instituições, forçando uma queda ainda maior dos preços de alguns papéis. No segundo grupo, entraram fundos de ações e investidores com visão de longo prazo e menor exposição em bolsa aconselhados pelos gestores de fortunas.

Haverá perdas para muitos fundos de investimento, e não só de ações, alertam analistas. Carteiras multimercados também sofrerão, apesar de sua menor exposição à bolsa. Mas muitos compensarão isso com ganhos na renda fixa, já que a maioria estava apostando na queda dos juros, aplicada em taxas prefixadas, e acertou, pois os juros caíram ontem com a crise. O mesmo efeito deve ocorrer nas carteiras de renda fixa. "Os fundos multimercados também não estão muito alavancados, por isso não temos visto perdas gigantescas nas cotas", diz Celso Scaramuzza, responsável pelo Itaú Private Bank.

Já nas carteiras de ações, a perda vai depender da concentração do gestor em cada papel e sua alavancagem. O caso que chama mais a atenção é novamente o da gestora GWI e seus fundos alavancados. Em um deles, o Leverage, a perda até dia 5 já era de 40% no mês e 86% no ano. E as perdas devem ter se acelerado ontem, já que a gestora é grande investidora em ações da Marfrig, que caíram apenas ontem 25%.O pânico observado nos últimos dias fez com que a gestora independente Investidor Profissional (IP) aproveitasse o momento para elevar a exposição em papéis que já mantém em carteira, como Itaúsa, Aliansce e Multiplan, conta o sócio Bruno Barreto. "As pessoas tendem a achar que, por causa do aumento de volatilidade e da forte queda vista recentemente, está mais arriscado aplicar em ações, quando na verdade é justamente o contrário", diz ele. "Pagar 30% menos num papel traz um risco muito menor do que trazia há dois meses, por exemplo."

Entre os gestores de fortunas, a orientação já vinha sendo de proteção em meio ao crescimento da incerteza internacional, afirma Mauro Rached Rached, estrategista de investimentos do BNP Paribas Wealth Management. "Alguns aceitaram algum tipo de mecanismo de proteção e outros, com visão de longuíssimo prazo, resolveram correr o risco."

Agora, segundo Rached, a orientação do banco diante da piora do cenário é ver se há clientes querendo algum tipo de proteção ou até redução de aplicações. "Mas, hoje, o custo dessa proteção é muito maior, e pode reduzir os ganhos de uma eventual recuperação dos mercados."

Para Rached, diminuindo o nervosismo, pode haver uma retomada inicial mais forte dos preços das ações para um nível mais perto de uma ou duas semanas atrás. Depois, o ritmo da valorização seria mais lento e sujeito à volatilidade dos indicadores dos países. "Mas o mercado pode ainda vir mais para baixo se não vier fato novo que resgate a confiança ou se saírem mais notícias negativas, novos rebaixamentos de ratings", alerta.

Por isso, para os clientes que fizeram proteção, estão abaixo da exposição média em bolsa ou alguns que sequer estavam expostos e se mostram propostos a entrar no mercado, Rached diz que a orientação é comprar gradualmente. "O nível atual de preços já embute a revisão das expectativas econômicas mundiais das últimas duas semanas e muito mais", diz. "Mesmo que a bolsa suba 5%, ainda estaremos com preços atrativos", diz. E nem é preciso escolher muito. Rached sugere a compra do Índice Bovespa. " Vale, bancos e grandes empresas de consumo, como AmBev e Brasil Foods, estão atrativos, mas o próprio índice é opção neste momento."

Já nas corretoras, diferentemente de 2008, quando houve uma saída em massa dos investidores pessoa física, a agitação é menor. "Em 2008, o investidor estava mais despreparado depois de três anos de alta da bolsa e hoje tem mais ferramentas para limitar suas perdas", afirma Paulo Levy, diretor-executivo da Icap no Brasil.

Na coreana Mirae, o movimento de venda na última semana, e principalmente no pregão de ontem, foi liderado por investidores estrangeiros e gestores de fundos brasileiros que estavam buscando diminuir a alavancagem das carteiras. "Temos visto a maior parte dos estrangeiros vendendo seja porque acredita que o cenário externo deve piorar ou porque a expansão do crédito no Brasil foi exagerada", afirma Pablo Spyer, chefe da divisão de corretagem da Mirae.

Os fundos de pensão não têm diminuído a posição em bolsa, dizem analistas. Na Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa, a visão é de que o momento é mais para compra do que para a venda, afirma Demósthenes Marques, diretor de investimento.