Título: Estoques em alta e preços em queda
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2011, Empresas/Indústria, p. B8

De São Paulo

A indústria siderúrgica voltou a enfrentar um momento delicado em meio ao quadro de estoques elevados, retração de preços no exterior e arrefecimento de demanda no mercado doméstico.

A tentativa de um aumento de preços a clientes da distribuição entre março e maio fracassou e desde o mês passado produtores de aços planos estão retirando parte dos reajustes anunciados.

Segundo distribuidores, as siderúrgicas estão dando descontos que, na prática, cortaram pela metade os aumentos de 7% a 10% que haviam sido aplicados sobre os preços das bobinas de aço.

A depender do volume da compra, é possível tirar totalmente o reajuste anterior e fechar encomendas pelos mesmos preços que eram praticados no fim do ano passado.

De acordo com uma fonte ligada a um grande produtor de veículos instalado no país, um reajuste no valor do aço que seria aplicado às montadoras na passagem de junho para julho foi suspenso diante da trajetória de queda no preço de laminados a quente no mercado internacional a partir de março.

As siderúrgicas brasileiras, contudo, não voltaram a sinalizar novos cortes porque, com os últimos ajustes, o produto nacional segue competitivo em relação ao importado. O foco do setor está em evitar uma nova invasão do aço estrangeiro no país, como aconteceu no ano passado.

Também há uma percepção de que novas reduções de preços seriam incapazes de estimular um mercado com baixo apetite ao consumo de aço - seja daqui ou de fora -, dado o aumento de estoques na cadeia.

"Mesmo que o aço importado estivesse 30% mais barato que o nacional, nós não importaríamos neste momento", resume Paulo Moraes, gerente comercial da Aços Groth, uma distribuidora de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo.

O setor vive hoje uma reversão das expectativas do início do ano, quando reajustes promovidos por siderúrgicas estrangeiras e a recuperação do consumo abriram espaço para manobras dos preços praticados no Brasil.

O que se seguiu depois foi um descompasso entre oferta e demanda, refletido no acumulo de estoques do setor. Desde o mês passado, os distribuidores estão comprando menos do que estão vendendo, na tentativa de diminuir o volume de produtos que estão parados nos pátios.

As vendas de aço plano nacional no mercado interno - que estavam acima de 1 milhão de toneladas mensais entre março e maio - recuaram para 945 mil toneladas em junho, 17% a menos do que no mesmo período do ano passado.

As siderúrgicas sentiram o golpe e pisaram no freio na produção, cortando em 6,9% a laminação de planos na passagem de maio para junho.

A tendência é que os clientes da distribuição continuem os esforços para trazer os estoques a um nível mais saudável, o que seria algo próximo a um giro de dois meses e meio. Em junho, esse giro estava em 3,7 meses, mas o Inda - entidade que abriga o setor de distribuição de aços planos no país - espera que o nível desça para 3,4 meses neste mês, na esteira de uma contração de 10% nas compras.

Com preços pressionados e os custos dos principais insumos em alta, as siderúrgicas mais dependentes do suprimento de matérias-primas por terceiros - caso da Usiminas - seguirão com margens operacionais apertadas na maior parte deste trimestre.

Apesar disso, Rafael Weber, analista de siderurgia da Geração Futuro, aposta na melhora do ambiente de preços no mercado internacional a partir de setembro, em decorrência de uma aguardada recomposição de estoques na China. A capacidade de as siderúrgicas nacionais aproveitarem esse movimento, contudo, dependerá do comportamento do câmbio, levando-se em conta que a valorização do real diminui o campo para manobras de preços por produtores nacionais. "O ideal seria o câmbio ficar estável", diz Weber.