Título: Aterro de SP fecha maior contrato de venda de créditos de carbono do mundo
Autor: Marta Watanabe
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Brasil, p. A2

A Biogás Energia Ambiental e o banco alemão KFW assinaram ontem o que é considerado o maior contrato mundial de venda de créditos de carbono já gerados. Foram 1 milhão de toneladas de crédito de carbono gerados entre 2004 e 2005 no projeto de geração de energia elétrica a a partir de gás bioquímico captados do aterro Bandeirantes. O valor do negócio não foi divulgado. O aterro Bandeirantes, para onde é destinada metade do lixo produzido na cidade de São Paulo, pertence à prefeitura do município. A Biogás é a concessionária contratada pela prefeitura para fazer a captação de gás e a canalização para geração de energia elétrica. O banco alemão KFW, que comprou os créditos gerados, deverá revendê-los a seus clientes situados em países desenvolvidos, que precisam cumprir metas de redução de crédito de carbono, conforme previsão do protocolo de Kyoto. Trata-se da primeira venda de crédito de carbono do projeto do aterro Bandeirantes. A expectativa é que a exploração ainda renda outros 7 milhões de toneladas de crédito de carbono até 2012. "Esse tipo de projeto é interessante porque permite a geração de energia elétrica e ao mesmo tempo um ganho adicional com a venda de créditos de carbono", diz Richard Fazzani, do Unibanco, banco que explora a venda da energia por meio da Biogeração, empresa proprietária dos equipamentos de geração. Os créditos de carbono gerados no aterro Bandeirantes pertencem 50% à prefeitura de São Paulo. A outra metade fica para a Biogás e para o Unibanco. A usina tem capacidade de gerar 175 mil MWh/ano. "Esse é o maior contrato mundial de créditos de carbono já gerados", diz o vice-presidente de transações da Econergy International, consultoria que fez a negociação dos créditos. O secretário executivo da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, José Gonzalez Miguez, lembra que o projeto do aterro é um dos poucos que já tiveram a redução de emissão de gases auditada pela ONU. O Brasil tem, segundo levantamento de 30 de março, um total de 37 projetos já aprovados pela ONU, mas apenas outros quatro já estão numa fase mais avançado, com projetos já implementados, em pleno funcionamento e com o cálculo da efetiva redução de emissão de gases. Miguez acredita, porém, que esse é apenas o início. O Brasil, segundo ele, tem potencial para geral 20 milhões de toneladas de crédito de carbono ao ano. "Se levarmos em consideração um preço médio de US$ 5 a tonelada, estamos falando em US$ 100 milhões ao ano. E isso deve ser considerado como uma exportação." O secretário diz que o Brasil é ainda o país que mais aprova projetos na modalidade Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) criado pelo protocolo de Kyoto. São denominados como MDL as propostas do grupo de países que ainda não têm uma meta de redução de emissão de gases poluentes. Esse grupo pode apresentar projetos para diminuir o nível de emissão dos gases. Essa redução é medida em termos de crédito de carbono negociável a países que estão no grupo que já possuem metas de redução de emissão. Miguez lembra, porém, que atualmente a Índia é o país que mais tem projetos em andamento, o que inclui a etapa de validação até a espera pela análise do comitê executivo da ONU. A China é o país que tem previsão maior de redução de créditos de carbono, apesar do menor número de projetos aprovados. "Isso se dá pelo perfil das propostas, que geram mais créditos de carbono", diz Miguez.