Título: Gestão de 2005 deu qualidade ao crescimento, diz Bevilaqua
Autor: Altamiro Lopes e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Brasil, p. A3

A política econômica aplicada ao longo do ano passado pelo Banco Central fará com que o Brasil colha bons frutos em 2006. Os indicadores desse começo de ano já sinalizam que será um dos melhores anos para a economia brasileira em muito tempo, segundo avaliação do diretor de política monetária do BC, Afonso Bevilaqua. Para ele, a economia já estava aquecida desde o final do ano e vem sustentando esse movimento por meio do avanço do investimento e da maior participação da demanda doméstica. "Será um ano de crescimento alto e inflação baixa", disse ontem em um seminário em São Paulo promovido pela consultoria Tendências. Ele espera que o Produto Interno Bruto (PIB) avance 4%. Um dos indicadores que apontam para a recuperação da economia, segundo ele, é a produção industrial de fevereiro. "Os dados recentes da produção industrial confirmam que a economia continua crescendo e o aumento deve permanecer nos próximos meses", disse Beviláqua. "Teremos em 2006 uma taxa saudável de crescimento, com inflação convergindo para a meta", disse. Três outros economistas presentes no seminário, Edmar Bacha, Maílson da Nóbrega e Gustavo Loyola, esperam taxas menores, de 3,5%. Edmar Bacha, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no entanto, após ouvir a palestra de Beviláqua disse que talvez sua previsão de um PIB com alta de 3,5% possa ser revista para cima. "Esse aumento de 3,2% no consumo das famílias parece indicar que o BC estava certo quando apertou os juros temendo aquecimento da demanda. Agora, pelo que tudo indica, o crescimento virá com mais vigor", afirmou. O diretor do BC lembrou também que apesar de o PIB ter crescido 2,3% em 2005, o consumo das famílias superou esse patamar e chegou e 3,2%. Ao mesmo tempo, a inflação tem mostrado acomodação neste começo de ano, tanto no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - que baliza a meta de inflação perseguida pelo BC - quanto no Índice de Preços ao Atacado, do Índice Geral de Preços (IGP). "E as expectativas de inflação têm caminhado muito coladas ao IPCA realizado", completou. A expectativa é que o investimento tenha melhor desempenho esse ano. "Já estamos vendo crescimento da absorção interna de bens de capital e do setor da construção civil", exemplificou. Pelo lado da demanda doméstica, o crescimento do emprego, o aumento da renda e a maior confiança do empresariado irão impulsionar a economia brasileira. No seminário, Bevilaqua refutou críticas de que a política do Banco Central de controle da inflação seja contraditória com a política de acúmulo de reservas que o banco vem fazendo desde 2004, comprando dólares no mercado. "Não há contradição no que temos feito", afirmou. Segundo ele, "ao exercer o papel de controle da inflação estamos recompondo nossas reservas". E ressaltou que o banco tem procurado aproveitar as condições favoráveis do mercado. Neste ano, o BC já acumulou US$ 8 bilhões em reservas. Desde o início do programa, foram comprados US$ 35 bilhões no mercado. A projeção é que as reservas cheguem a US$ 60 bilhões este ano. Sobre o real valorizado, que ontem recuou para R$ 2,13 em seu sexto dia de queda, Bevilaqua afirmou que "a taxa de câmbio nominal tem funcionado exatamente como gostaríamos que funcionasse". Mais uma vez o diretor afirmou que o câmbio é flutuante, e que ele irá ceder mais cedo ou mais tarde, pois a apreciação não pode ser permanente. "A redução da valorização se dará por meio dos mecanismos do próprio mercado", disse. Na sessão de perguntas, boa parte das 600 pessoas presentes ao seminário queria saber da quedas das taxas de juros estratosféricas do Brasil. Bevilaqua, porém, não fez projeções ou comentou se os juros vão cair de forma mais intensa. "Para saber o que vai acontecer com os juros, será preciso esperar as próximas reuniões do Copom", disse. Ele reconheceu, contudo, que "os juros reais são muito altos, mas vêm caindo ao longo do tempo".