Título: Produção fraca segura juros
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2010, Economia, p. 14

Indústria cresce apenas 0,4% em julho, consolidando a aposta do governo na estabilidade da Selic

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está convencido de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manterá, hoje, a taxa básica de juros (Selic) em 10,75% ao ano. A certeza se cristalizou depois da divulgação, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que a produção industrial cresceu apenas 0,4% em julho na comparação com o mês anterior, resultado muito próximo ao piso das estimativas do mercado, variando entre 0,2% e 1,4%.

Na avaliação de assessores de Mantega, os dados do IBGE mostraram que a atividade começou o segundo semestre do ano caminhando a um ritmo moderado, sinal de que não há superaquecimento da economia nem pressões inflacionárias que justifiquem um novo aperto monetário. A mesma avaliação é feita nos corredores do BC, ainda que uma ala pequena de técnicos não descarte a possibilidade de uma alta adicional de 0,25 ponto percentual nos juros, como forma de reforçar a independência do Copom.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, tem explicitado o mau humor com as insinuações do mercado de que a decisão do Comitê de reduzir a alta da Selic em julho, de 0,75 para 0,5 ponto, teve interferência política. Portanto, não está descartada uma surpresa, ainda que quase todos os analistas agora endossem a estabilidade da Selic, afirmou um servidor do BC.

Apesar do fraco avanço de junho para julho, a produção industrial acumulou alta de 15% no ano, resultado recorde para o período. Na comparação com julho de 2009, houve avanço de 8,7%. Segundo técnicos do IBGE, a indústria mostrou, no mês passado, sinais de recuperação, depois de três meses em queda na comparação com o mês anterior, apesar de o avanço atual se dar em uma velocidade mais lenta do que a observada nos primeiros meses deste ano.

Estamos iniciando o terceiro trimestre com crescimento, embora seja em um ritmo menos intenso do que o observado anteriormente, disse André Macedo, técnico do IBGE. Para ele, a alta da produção no mês passado ante junho foi o primeiro resultado positivo nesse tipo de comparação (mês ante mês anterior) desde março. A partir dali, a indústria mostrou tombos sucessivos: 0,9% em abril; 0,2% em maio; e 1,1% em junho. A retração acumulada nesse período de três meses foi de 2,2%, ressaltou.

Pelos dados do IBGE, uma das atividades que mais ajudaram a puxar a produção para cima ao longo do ano foi a de bens de capital, que acumula alta de 28,3%. Também o segmento de bens intermediários ajudou, com avanço de 16,4% entre janeiro e julho. No mês passado, especificamente, o destaque foi a produção de veículos, com um salto de 3,6% frente a junho, contribuindo pesadamente para a alta do setor como um todo. Na comparação com julho de 2009, a produção de automóveis subiu 26,5%, o melhor resultado nesse tipo de comparação entre as atividades pesquisadas pela indústria em geral.