Título: Brasil busca posição intermediária para produtos agrícolas
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Brasil, p. A5

O Brasil avalia que o nível de ambição entre exportadores e importadores agrícolas continua muito distante na Rodada Doha, apesar de "novas idéias"' apresentadas pela União Européia , Japão e Estados Unidos esta semana. Para o embaixador brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), Clodoaldo Hugueney, a busca de acordo sobre o tratamento de produtos a serem designados como "sensíveis" deve levar a uma posição "intermediária" entre a resistência da UE em abrir seu mercado e a ambição liberalizadora dos EUA. Os sensíveis são praticamente todos de especial interesse exportador do Brasil - carnes, açúcar, tabaco, suco de laranja, lácteos - e terão corte tarifário menor. Em contrapartida, os países que utilizarem o mecanismo devem compensar os exportadores aumentando as cotas que permitem a entrada de determinada quantidade livre de tarifa ou com alíquota mais baixa. Em gesto reconhecido pelos parceiros, a UE ofereceu aumentar de 6% para 31% o volume das cotas para produtos que hoje importa em quantidade ínfima. Os EUA não rechaçaram a oferta, mas mostraram que ela não interessa, porque a proposta só expande as cotas em, no máximo, 2% do consumo doméstico europeu. Em contrapartida, Washington propôs ampliar as atuais cotas em 7,5% do consumo doméstico desses produtos, retomando idéia apresentada no ano passado. Se a cota atual de um produto nos EUA, UE e Japão representar hoje 3% do consumo interno, o novo volume passaria a ser 10,5% do total. Mas foi a vez de a UE deixar claro que não tem como aceitar o nível de ambição americano. Teme que seu mercado seja inundado, por exemplo, por carnes brasileiras. O Japão, maior importador mundial de alimentos, propôs que os países com mercados mais fechados sejam aqueles a abrir mais as fronteiras. Nesse cenário, Hugueney diz que os países começam a explorar "algo intermediário". Ele insiste que os importadores vão ter de levar em conta o consumo doméstico para definir a nova cota. Admite que a tendência é dar tratamento diferenciado para produtos. "Temos que olhar diferentes cotas, em diferentes países", diz. Exemplifica que, no Japão, a cota para trigo já representa 96% do consumo doméstico. Reconhece que, para certos produtos, a cota de 7,5% do consumo europeu pode ser inaceitável para os 25 países-membros. Em algumas áreas do agronegócio brasileiro, a tendência é de endurecimento, não de contemporização. "Na Rodada Uruguai, os países acertaram que as cotas equivaleriam a 5% do consumo doméstico do produto e isso não é nunca respeitado", diz Pedro Camargo Neto, presidente da associação dos exportadores de carne suína. "Não estamos falando de abertura de mercado, mas de cotas (restrição quantitativa). Não tem sentido a Rodada Doha viabilizar cotas menores que 7,5%, ou seja, 50% maior que na Rodada Uruguai. O Brasil tem que lutar por isso."