Título: É preciso conter gasto público, diz Armínio
Autor: Marília de Camargo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Especial/Fórum Econômico Mundial, p. A6

Para crescer a taxas mais elevadas, o Brasil precisa enfrentar com determinação questões como o crescimento do gasto público, o ambiente regulatório e a dificuldade para se realizar negócios, avalia o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Ele acredita que esses são alguns dos problemas que explicam por que o país avança a ritmo mais modesto do que seus competidores, acrescentando que também é importante investir mais em educação e promover maior abertura comercial. Fraga, que participou ontem do Fórum Econômico Mundial, em São Paulo, é mais um dos analistas a frisar a necessidade de o país conter o crescimento do gasto público. "O gasto público não pode crescer a taxas de quase dois dígitos ao ano, como tem sido o caso na última década", disse. "Com essa expansão das despesas do governo, a carga tributária aumentou enormemente, o que dificulta a vida da economia produtiva. E também há um impacto sobre o nível dos juros." Para Fraga, esse é um tema urgente. "O próximo governo precisa tomar medidas claras e firmes na direção de estancar esse processo, para algum dia poder reduzir a carga tributária, o que é essencial para o país crescer mais." Fraga tem sido apontado como um dos principais interlocutores do candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin. Segundo ele, os dois tiveram apenas uma conversa. Sobre o que falaram? "Eu disse mais ou menos o que eu falei aqui hoje. O país tem potencial a explorar, e que há questões macroeconômicas e outras de natureza mais microeconômicas a serem enfrentadas. Se elas forem abordadas, o país pode ter um futuro muito melhor do que se imagina, mas se não forem abordadas nós podemos nos frustrar." Entre as questões microeconômicas, Fraga ressaltou a dificuldade de se realizar negócios aqui, lembrando o relatório do Banco Mundial em que o Brasil aparece no 119º lugar numa lista de 155 países. O documento analisa fatores como o tempo que se gasta para abrir e fechar uma empresa, o custo de contratar e demitir funcionários e a questão do acesso ao crédito. "Nessas estatísticas, o Brasil tem aparecido mal, mostrando as dificuldades no ambiente de negócios, não só para as grandes empresas, mas também para as médias e pequenas." Fraga também comentou as perspectivas para a política monetária. "Recomendo a leitura dos documentos do BC, do relatório de inflação e das atas das reuniões do Copom, em que fica claro que a autoridade monetária vê as expectativas de inflação bem comportadas, as próprias previsões do BC são de inflação inferior à meta." Segundo ele, "a sinalização é muito clara, de queda nos juros."