Título: Modelo privado deve inspirar política pública
Autor: Marília de Camargo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Especial/Fórum Econômico Mundial, p. A6

As experiências desenvolvidas pela sociedade civil no combate aos problemas educacionais e de saúde devem convergir e os modelos resultantes podem servir de base para políticas públicas dos governos latino-americanos. Essa foi uma das principais conclusões de um debate sobre desigualdades sociais na América Latina realizado ontem na edição regional do Fórum Econômico Social. O diretor-presidente do Instituto Akatu, Hélio Mattar, deu o exemplo de uma experiência vivida anos atrás na periferia de São Paulo quando ele dirigia a Fundação Abrinq. Como forma de afastar os jovens da criminalidade e do consumo de drogas, 15 comunidades trocaram experiências de combate a esses problemas. "Desta forma, chegou-se a um modelo que foi adotado pela prefeitura mais tarde", contou. Ele explicou que, depois que os modelos estiverem desenvolvidos, a sociedade deve promover uma ação política de cobrança do governo para que os modelos adequados sejam adotados. "Essa é uma das partes mais importantes: o envolvimento da sociedade para cobrar do governo", afirmou. As empresas também têm sua responsabilidade. "Nenhum negócio consegue sobreviver com a falência da sociedade", disse o presidente da Nestlé, Ivan Zurita. De acordo com o executivo, as empresas devem priorizar sua atuação na criação das ações de valor a longo prazo, e não de curto prazo. Zurita citou exemplos de organizações, como o Instituto Ayrton Senna, que possuem boas experiências ja desenvolvidas e que podem ser replicadas em outras áreas. "O lucro é conseqüência dos programas desenvolvidos pelas empresas", afirmou o empresário. Apesar das diversas iniciativas lançadas nos últimos anos na America Latina para enfrentar as deficiências básicas, os problemas enfrentados no continente ainda são muito grandes. As iniciativas foram tomadas por empresas em projetos próprios ou em organizações não-governamentais, mas muitas das ações são consideradas muito fragmentadas. Funcionam, mas não atingem todas as pessoas necessitadas. "O setor privado deve dar o suporte, mas não pode fazer tudo", disse a vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, Pamela Cox. Ela acredita que a melhor forma é definir modelos que possam ter continuidade sem que os projetos sejam paralisados com a troca de governo. Mattar completou, dizendo que apenas o governo tem condições de universalizar as ações desenvolvidas pelo setor privado.