Título: País é alternativa "imperdível" de investimento, diz Lula a empresários
Autor: Marília de Camargo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Especial/Fórum Econômico Mundial, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou vender o Brasil e a America do Sul como uma oportunidade "imperdível" de investimentos, ontem, em pronunciamento a empresários, executivos e lideranças do setor público e acadêmico internacional no segundo e último dia do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em São Paulo. Num discurso de quase uma hora, em que só falou de economia e em nenhum momento proferiu palavra sobre a crise política, Lula assumiu um tom ufanista ao destacar todas as conquistas sociais de seu governo e as melhoras nos fundamentos que permitiram ao Brasil estar pronto para o que ele chamou de "novo ciclo de desenvolvimento sustentável". Em sua saudação, ele disse esperar ter no próximo fórum mundial, em Davos, o mesmo espaço para apresentar os resultados de seu mandato "seja como presidente ou sem ser presidente". No ano passado, Lula foi uma das estrelas do fórum de Davos, no qual apresentou uma proposta de criar uma "nova geografia" global. Neste evento em São Paulo, o foco, além dos avanços no Brasil, foi a necessidade de integração maior entre os vizinhos latino-americanos para dar um salto de qualidade no desenvolvimento da região. "Temos a oferecer ao capital privado um novo pólo mundial de investimentos, um gigantesco canteiro de obras, para parcerias estratégicas que vão acelerar a integração física em um mercado de mais de 300 milhões de consumidores." Mas sem os investimentos em infra-estrutura, ressaltou o presidente, os países tendem a passar mais um século tratando dessa integração sem resultados concretos. Infra-estrutura e investimento foram enfatizados como a base para o desenvolvimento de que necessitam todos os países da região para que possam ocupar um lugar melhor na economia global. "Se não cuidarmos de definir o que queremos ser daqui a 20 ou 30 anos, daqui a 20 ou 30 anos seremos tão pequenos e pobres como somos hoje." Lula afirmou que, pela primeira vez em muitos anos, "a América do Sul vive não apenas uma convergência inédita de governos que compartilham valores e agendas democráticas, mas sobretudo desfruta condições excepcionalmente favoráveis no plano econômico regional e mundial". O presidente fez uma relação dos diversos aspectos econômicos que melhoraram em seu governo - a inflação, a curva dos juros, o saldo da balança comercial, o fluxo de comércio internacional e o endividamento externo. E afirmou, quando questionado pelo presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, que o grave problema da carga tributária, que chega perto de 40% do PIB, não é culpa de seu governo, mas foi "herdado". "O comércio entre os países sul-americanos prospera. É a primeira vez que exportamos mais para América Latina do que para os EUA individualmente, do que para a Europa", comemorou Lula. O presidente seguiu lembrando a auto-suficiência energética e do vasto repertório mineral do país, que desfrutam de um "largo horizonte de demanda externa", disse. "Há espaço para uma política estratégica de agregação de valor que supere a lógica de fornecedor primário vigente em nossa região durante séculos". Segundo o presidente, o Brasil chegará a ser considerado um país de Primeiro Mundo se for definida uma forte política industrial e uma forte política de inovação. Para isso, o governo está investindo na formação de doutores. "Poucas vezes se investiu na formação profissional como nós temos investido. Poucas vezes se publicou tantos artigos em revistas especializadas como nossos pesquisadores têm publicado nos últimos tempos. " Um dos programas considerados importantes nesse processo de formação, essencial para tornar o país mais competitivo, é o ProUni, que segundo o presidente incluiu em 12 meses 203 mil jovens oriundos de escolas públicas nas universidades e irá acrescentar outros 760 mil num período de três anos. "Aí, sim, o Brasil irá colocar valor agregado nas coisas que exporta, porque queremos exportar junto com as nossas matérias-primas e manufaturados um pouco mais da nossa inteligência." Mas para que esse potencial se concretize, os investimentos em infra-estrutura são fundamentais. O presidente Lula comparou a América do Sul a uma pessoa que vê o vizinho comprar uma televisão nova, fica com inveja e se pergunta por que não consegue comprar também. "Além do populismo histórico, o problema da América do Sul é que ficamos durante muito tempo admirando a economia européia, ou a americana, ou mesmo a chinesa e não parávamos para pensar por que não tínhamos as mesmas possibilidades." Depois de visitar a América do Sul como nenhum outro presidente "jamais visitou", e de receber aqui todos os presidentes da região mais que uma vez, o governo percebeu que, sem definir projetos estratégicos de infra-estrutura de integração "ficaríamos mais um século" invejando a televisão da casa do vizinho. Hoje, segundo Lula, o Brasil tem um investimento de peso em cada país da região - estradas, pontos, hidrelétricas. Como economia preponderante, o Brasil precisa dar o exemplo para que a região possa dar um salto de qualidade no desenvolvimento. O presidente foi muito aplaudido e fez várias brincadeiras sobre o futuro que lhe aguarda, sempre dando a entender que não sabe se será ou não reeleito em outubro. Para o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luís Moreno, que estava entre os participantes da mesa, Lula disse que não pretendia mudar de país quando não for mais presidente (numa sutil alfinetada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que passou um tempo em Paris após deixar o governo) . Mas afirmou que estava disposto a ser contratado como consultor do BID para "vender boas idéias".