Título: Furlan propõe compensar moedas no Mercosul
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Especial/Fórum Econômico Mundial, p. A7
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, defendeu ontem a adoção de um mecanismo de compensação de moedas no âmbito do Mercosul, para permitir às empresas exportar e importar sem realizar as transações em dólar. A medida aumentaria a competitividade das companhias, por eliminar o custo de conversão de divisas, afirmou Furlan. A entrada em vigor da proposta requer um entendimento entre os bancos centrais da região. Com os presidentes dos BCs do Brasil, Henrique Meirelles, e da Argentina, Martín Redrado, presentes ao mesmo debate no Fórum Econômico Mundial, o ministro disse, de forma provocativa, que a adoção da medida dependia dos dois. Tanto Meirelles como Redrado mostraram resistência à idéia da compensação de moedas, ainda que polidamente. Reconheceram a importância da medida, mas lembraram que há obstáculos à sua implantação. O problema para os BCs, como explicou Redrado, é que não cabe a uma autoridade monetária assumir os riscos em operações como a compensação de moedas. Segundo Meirelles, é necessário tomar cuidado para que a medida não produza custos que depois podem recair sobre a sociedade. Para ele, é necessário encontrar uma solução de longo prazo para a questão, que deve ser estudada. Depois do encontro, Furlan disse que Meirelles e Redrado estão certos quanto ao "argumento de que não é especialidade de um BC tomar esse tipo de risco". "Mas a minha intenção era dizer que, se as empresas dentro do Mercosul, principalmente as pequenas, puderem negociar em suas moedas, haverá um grande incremento de negócios. E compete à autoridade monetária refazer o regulamento." Para ele, a questão do risco da operação e da compensação pode ser construída por mecanismos como uma bolsa de futuros privada. Furlan enfatizou que fazer negócios com os países vizinhos em dólar implica um custo adicional na compra e na venda dos produtos. "Isso tira a competitividade da produção brasileira, principalmente das pequenas empresas, que acabam tendo 6%, 8% de custos financeiros na troca da moeda de exportação para a local." Para ele, num momento em o real se torna tão valorizado e tão forte, "seria um desdobramento normal que nós pudéssemos negociar comércio exterior na nossa própria moeda, como a maior parte dos países faz". Ao falar das exportações argentinas para o Brasil, Furlan disse ser difícil entender como a indústria argentina, que tem a vantagem da taxa de câmbio e um juro bem mais baixo, não aumenta mais rapidamente as vendas para cá. "O Brasil não coloca nenhuma barreira importante a produtos argentinos. São bem-vindas as importações do país", afirmou ele. "Mas eu recomendei aos meus colegas da Argentina e da União Industrial Argentina que venham vender e oferecer os produtos aqui", como fez o Brasil nos últimos anos. Furlan falou em um painel sobre o que é necessário fazer para aumentar a competitividade. Ele citou iniciativas do governo de redução ou isenção de impostos para investimento e também para simplificar a legislação para fazer negócios no país. O secretário-assistente dos EUA para Economia e Negócios Econômicos, E. Anthony Wayne, citou, além da questão da dificuldade de fazer negócios, os problemas de infra-estrutura e de educação da América Latina como entraves que afetam a competitividade da região. Ele lembrou que, em 2000, a população latino-americana estudava em média por seis anos. Entre os membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, que reúne os 29 países mais industrializados), a média é o dobro e, em alguns casos, atinge o triplo do tempo.