Título: Analistas temem expansão do modelo venezuelano
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Especial/Fórum Econômico Mundial, p. A7

A rodada de eleições na América Latina marcada para o biênio 2005-2006 parece indicar uma vitória maciça dos candidatos ligados aos partidos de esquerda. Mas um rompimento das políticas econômicas atuais divide os analistas. O modelo da Venezuela a ser replicado em outros países é o que mais traz temores. Em debate realizado no Fórum Econômico Mundial, que terminou ontem, o vice-presidente da PepsiCo, Néstor Carbonell, disse que existem riscos para algumas democracias latinas. "A democracia não se legitima apenas com as eleições, mas é mais do que isso, como o respeito aos direitos humanos e à liberdade de opinião", afirmou Carbonell. Mais tarde, em conversa com jornalistas, ele disse que suas críticas se referiam basicamente à Venezuela. Ele disse que, em situações extremas, as instituições fragilizam-se e surgem lideranças autoritárias. Os ataques feitos por executivos de empresas americanas à política de Hugo Chávez são mais raros, embora cada vez mais recorrentes. Na condição de vice-presidente para assuntos públicos empresa, Carbonell, que trabalha nos Estados Unidos, destoa de seus pares por seu ataque eloqüente ao presidente venezuelano. Há, no entanto, uma explicação. Ele tem um antigo histórico de ataques aos governos de esquerda na América Latina. Cubano de nascimento, deixou o país em 1960, já escreveu diversos livros contra a "sovietização" da ilha. Ele explicou que suas críticas não têm relação com os negócios da empresa na Venezuela. "A Pepsi vai muito bem lá", disse. "Sob o ponto de vista econômico, isso não nos preocupa a curto prazo, mas poderá ter conseqüências a longo prazo", afirmou. Depois de Hugo Chávez na Venezuela e Evo Morales na Bolívia, o historiador Boris Fausto vê eventuais riscos de ascensão do que classificou como um novo populismo no México e no Peru, com as possíveis vitórias de López Obrador e Ollanta Humala. Essa percepção não é consensual. "A esquerda na América Latina não é monolítica", disse Donna Hrinak, ex-embaixadora dos Estados Unidos no Brasil. A vice-presidente do grupo WPP, Ann Newman, lembrou que não se pode confundir esquerdismo com populismo. E citou como exemplo a presidente do Chile, Michelle Bachelet, candidata de esquerda com um programa de governo não intervencionista.