Título: Dilma terá a palavra final sobre o caso Varig
Autor: Daniel Rittner, Janaina Vilella e Cláudia Schüffne
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Especial/Fórum Econômico Mundial, p. A8

O diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, disse ontem que a solução para a crise da Varig é "complexa" e a eventual quebra da empresa aérea "não é boa para ninguém". De acordo com ele, o governo tem sido "parceiro" da companhia nos últimos três anos, mas não fiscaliza o cotidiano financeiro da companhia, algo que só a própria direção da Varig tem condições de controlar. "A saída [do mercado] da Varig não é boa para ninguém, nem para o governo nem para os usuários", afirmou. Zuanazzi participou de uma reunião ontem à noite, no Palácio do Planalto, para elaborar um diagnóstico da crise da aérea. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encarregou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de fazer contatos com credores estatais e definir uma posição do governo sobre o assunto. Ela conversou, ao longo do dia, com executivos da Infraero, da BR Distribuidora, do INSS e da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), responsável pela fiscalização do fundo de pensão Aerus. Também liderou a reunião no Planalto, da qual participaram funcionários de alto escalão dos ministérios da Fazenda e da Defesa. Os participantes do encontro deixaram o Planalto sem dar declarações à imprensa. O Valor apurou que é pessimista a visão da ministra Dilma sobre o agravamento da crise da Varig. A companhia está com pouco caixa até para pagar combustíveis à BR Distribuidora e as tarifas aeroportuárias à Infraero, que não recebe há sete meses. Nesta semana, a Anac recebeu executivos de TAM, Gol, BRA e Ocean Air. A agência reguladora nega as informações de que estaria elaborando um "plano de contingência" para transferir vôos e linhas, em caso de eventual quebra da Varig. Atualmente, a companhia aérea ainda lidera o mercado internacional, com cerca de 75% de participação. Mas a sua fatia nos vôos domésticos tem encolhido sistematicamente e hoje é de apenas 19% do mercado. Em São Paulo, dirigentes da VarigLog, ex-subsidiária de transporte de cargas e logística da Varig, reuniram-se na quarta-feira à noite com representantes do fundo de pensão Aerus para detalhar a proposta de compra da Varig apresentada pela Volo do Brasil aos credores na terça-feira. A Volo, que tem como sócios o fundo americano de investimentos MatlinPatterson, é a nova controladora da VarigLog. O presidente do Aerus, Odilon Junqueira, disse que será difícil aceitar a proposta da maneira como foi estruturada, mas que a oferta ainda será submetida ao crivo dos demais credores da Varig em assembléia. A VarigLog ofereceu US$ 350 milhões pela parte operacional da companhia. A proposta prevê a divisão da aérea em duas empresas. Na "antiga" Varig ficariam todos os passivos, de cerca de US$ 7 bilhões, assim como o direito de receber indenizações relativas a ações que a Varig move contra a União para a recomposição de tarifas congeladas entre o fim dos anos de 1980 e o início da década de 1990. "Mas não posso contar só com isso", disse Junqueira. O desânimo dos credores com essa proposta se explica porque o MatlinPatterson propôs deixar na "antiga" Varig dívidas que incluem salários atrasados, os R$ 18 milhões que a empresa deixou de pagar ao Aerus depois da recuperação judicial (referentes a fevereiro e março), US$ 30 milhões devidos a empresas de leasing, além de outros R$ 492 milhões devidos à Infraero. Pela proposta, a "nova Varig" ficaria nas mãos da VarigLog, que usaria a marca (pela qual pagaria 5% do capital), os 52 aviões que ainda estão em condições de voar, e também 5 mil entre os 11 mil funcionários. Em meio às dificuldades financeiras que se agravaram nesta última semana, circulou ontem no mercado que a Ocean Air, do empresário German Efromovich, teria apresentado uma proposta de compra pela Varig de US$ 80 milhões com recursos do BNDES. A empresa assumiria a Varig por pelo menos 120 dias. A oferta, no entanto, pode não se concretizar porque a Ocean Air está inadimplente com a União. A Varig e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) negaram que a empresa tenha recebido qualquer proposta da Ocean Air. Segundo uma fonte que acompanha o dia-a-dia da empresa, a Varig está negociando com a Ocean Air um acordo operacional, no qual a companhia de Efromovich operaria algumas rotas internas que não trazem hoje a rentabilidade esperada pela Varig. O acordo, entretanto, ainda precisa de autorização do Departamento de Aviação Civil (DAC). "Os aviões da Varig são muito grandes e não estava sendo rentável voar para determinados destinos, por isso está negociando com a Ocean Air uma parceria para cobrir esses vôos", disse uma fonte da Varig.