Título: Após decisão, bolsas e "treasuries" disparam
Autor: Bittencourt, Angela
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2011, Finanças, p. C2

Além de comprometer-se pela primeira vez em manter sua taxa referencial de juros no menor patamar histórico pelo menos até meados de 2013, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) discutiu uma série de ferramentas para impulsionar a economia. Também anunciou estar preparado para empregá-las da forma "apropriada", segundo informou em comunicado divulgado, ontem, em Washington.

Entre os membros do Fomc, houve três "dissidentes", que preferiram manter o compromisso de manter as taxas de juros baixas por um "período extenso", mas sem especificar períodos.

A decisão representa o maior esforço do Fed desde novembro para incentivar a economia dos EUA e reanimar a confiança, embora as autoridades monetárias não tenham chegado a preparar uma terceira rodada de compras de ativos em grande escala. O presidente do Fed, Ben Bernanke, e seus colegas fizeram os anúncios depois de relatórios terem mostrado que a economia está em desaceleração e depois do rebaixamento inédito da classificação de crédito dos EUA, que derrubaram ações por todo o mundo, de Sydney a Nova York.

O Fed mostrou uma visão mais obscura da economia do que em seu comunicado passado, divulgado no fim de junho.

"O crescimento econômico até agora neste ano vem sendo consideravelmente mais lento do que o comitê esperava", destacou. O Fed também previu "um ritmo de recuperação um pouco mais lento nos próximos trimestres", acrescentando que "aumentaram os riscos de piora das perspectivas econômicas".

Em reação, as bolsas americanas acentuaram os ganhos e, no final do pregão, o índice Dow Jones, referência da Bolsa de Nova York, ganhou 3,98% para 11.239 pontos. O Standard & Poor"s 500 teve valorização de 4,74%, para 1.172 pontos, enquanto que o índice Nasdaq subiu 5,29%, para 2.482 pontos.

O movimento de compra se acelerou perto do fim da sessão e o S&P teve seu melhor desempenho em mais de dois anos, depois de perdas de quase 17% nas últimas semanas.

As ações de bancos subiram com força após perdas recentes, com o índice KBW registrando alta de 6,7%.

Já o rendimento da notas do Tesouro dos EUA de dois anos recuava 0,188%, enquanto o dos papéis de dez anos caía para 2,192%, após chegar 2,03%, menor a patamar histórico.

"É um comprometimento drástico da taxa, que claramente é de extrema despreocupação com a inflação e mostra nítida tendência em direção a novas possíveis compras" de ativos, afirmou James O"Sullivan, economista-chefe do MF Global Inc., em Nova York. "Mesmo isso foi bastante controverso - ter três dissidentes evidencia as verdadeiras divisões no Fed neste momento."

O Fed manteve entre 0% e 0,25% sua meta para a taxa de juros dos fundos federais, que está nessa faixa desde dezembro de 2008. O banco central também informou que manterá sua política de reinvestir os papéis que estão vencendo, sem especificar por quanto tempo.

A decisão teve sete votos favoráveis e três contrários. Richard Fisher, presidente do Fed regional de Dallas, Charles Plosser, da unidade da Filadélfia, e Narayana Kocherlakota, do Fed de Minneapolis, foram os divergentes. A ocasião anterior em que ouve três dissidentes no Fomc havia sido em 17 de novembro de 1992.

De acordo com o Fed, houve "uma deterioração das condições gerais do mercado de trabalho nos últimos meses" e os gastos das famílias "aplanaram-se".

O ritmo de contratações desacelerou-se, uma vez que os empregadores perderam confiança na recuperação. O aumento mensal médio no número de folhas de pagamento caiu para 72 mil em maio, junho e julho, em comparação ao de 215 mil verificado nos três meses anteriores. O índice de desemprego caiu de 9,2% a 9,1%, entre junho e julho, porque mais americanos desistiram de procurar emprego, o que os exclui do indicador.

"Quando temos o tipo de combinação de crescimento abaixo da média, desemprego teimosamente alto e excesso de dívidas, precisa-se de taxas de juros baixas", afirmou Carmen Reinhart, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, em Washington, em 5 de agosto.

O mercado residencial também vem sendo um obstáculo ao crescimento, já que o declínio no preço das casas afeta a confiança e a situação financeira do consumidor.

As vendas de residências usadas, maior parcela do mercado, somaram 4,77 milhões no ano encerrado em junho, 34% a menos do que pico anterior à recessão, em setembro de 2005. O índice S&P/Case-Shiller de valor de propriedades em 20 cidades recuou 4,5% em maio na comparação anual, maior declínio em 18 meses.