Título: Cai vice-presidente de tecnologia do Banco do Brasil ligado ao PT
Autor: Alex Ribeiro e Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Política, p. A10

O Banco do Brasil anunciou ontem a saída do vice-presidente de tecnologia e logística, José Luiz de Cerqueira César, em mais um passo no processo de despolitização da instituição, iniciado com as investigações da CPI dos Correios. Assume interinamente o atual diretor de tecnologia do BB, Manoel Gimenes Ruy. A demissão foi uma vitória pessoal do presidente do BB, Rossano Maranhão, que não tinha um bom relacionamento com Cerqueira César. Desde meados do ano passado Maranhão vinha tentando demitir o vice-presidente de tecnologia, que se mantinha no cargo graças ao seu forte apoio político. Conhecido dentro do PT como o "Mexerica da Libelu", o grupo Liberdade e Luta, a indicação de Cerqueira César é atribuída ao ex-ministro e atual responsável pelo núcleo de assuntos estratégicos do Palácio do Planalto, Luiz Gushiken. Pressionado pelas investigações da CPI, o BB determinou uma devassa nas operações da área de tecnologia e na Cobra Tecnologia, cujas operações também foram conferidas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O TCU fez ressalvas ao contrato que estava sendo firmado pela Cobra com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Os resultados das apurações feitas pelo BB ainda não foram divulgadas, mas o banco determinou trocas na diretoria da Cobra por nomes escolhidos por Rossano. Além disso, a empresa passou a responder para a diretoria de varejo, e não mais à área de tecnologia. Em entrevista ao Valor, Cerqueira César nega divergências com Maranhão ou que sua saída guarde relação com visões políticas. O executivo diz que entregou uma carta de demissão porque estava cansado da burocracia de Brasília e da "dificuldade de dar ritmo aos projetos planejados". "Estava complicado executar os projetos que propus para este ano. Estamos em abril e o orçamento do banco não foi aprovado até agora", disse. "Tenho um orçamento definido de R$ 1,3 bilhão, mas que não pode ser usado enquanto não for aprovado." A gota d'água, segundo Cerqueira César, teria sido a discussão em andamento no banco para promover cortes de pessoal, o que afetaria a equipe de tecnologia. "Estava sem energia para esse tipo de problema", afirmou. Recentemente, representantes da Federação Nacional de Trabalhadores em Informática (Fenadados) denunciaram à Controladoria Geral da União a nomeação de parentes de Cerqueira César para trabalhar no BB e na Cobra Tecnologia. O executivo diz que se trata de "calúnia" e que esse episódio já foi esclarecido, não tendo relação com sua saída. No ano passado, o BB começou a entrar em um processo de despolitização. Primeiro, saiu o presidente do Banco Popular do Brasil, Ivan Guimarães; em seguida, saíram o vice-presidente de varejo e distribuição, Edson Monteiro, e o vice-presidentes de finanças e mercado de capitais, Luiz Eduardo Franco de Abreu. Por fim, o gerente de marketing do BB, Henrique Pizzolato. Ainda existem no BB, entretanto, dois dirigentes com vínculos com o PT: o vice-presidente de crédito, controladoria e risco global, Adézio de Almeida Lima; e o vice-presidente de gestão de pessoas e responsabilidade sócio-ambiental, Luiz Oswaldo Sant´lago Moreira de Souza. Fontes do BB avaliam que, com a saída de Cerqueira César, teria sido encerrado o processo de despolitização do banco, já que os dois vice-presidentes restantes não teriam um relacionamento tão tumultuado com Rossano.