Título: Nove deputados ameaçam deixar Conselho de Ética
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Política, p. A12

Irritados com a absolvição de João Paulo Cunha (PT-SP) pelo plenário da Câmara, nove deputados entregaram, ao presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), carta de renúncia aos seus mandatos de conselheiros. Em reunião a portas fechadas com o petebista, logo depois de entregar a carta, pela manhã, os renunciantes foram convencidos a recuar da decisão. No decorrer do dia, porém, seis parlamentares já haviam mudado de idéia novamente e reiterado a disposição de deixar o Conselho. O dia, ontem, foi bastante tumultuado no Conselho. Na noite da absolvição de João Paulo, na quarta-feira, Chico Alencar (PSOL-RJ) e Orlando Fantazzini (PSOL-SP) escreveram uma carta de renúncia. Na manhã de ontem, foram acompanhados por Júlio Delgado (PSB-MG), Benedito de Lira (PP-AL), Nelson Trad (PMDB-MS), Carlos Sampaio (PSDB-SP) e os suplentes Cláudio Magrão (PPS-SP), Marcelo Ortiz (PV-SP) e Cezar Schirmer (PMDB-RS), relator do processo de João Paulo. Izar, imediatamente, chamou todos os parlamentares para uma tensa reunião em seu gabinete. Além do presidente e dos nove, participaram do encontro a deputada Ann Pontes (PMDB-PA) e o deputado Edmar Moreira (PFL-MG). O pefelista já havia manifestado intenção de deixar o órgão depois do julgamento de todos os colegas acusados de envolvimento com o mensalão. O presidente do Conselho fez um apelo aos colegas. Irritado, pediu solidariedade aos relatores dos casos ainda em tramitação. Ann Pontes chorou ao pedir aos companheiros para continuarem nos cargos. Todos concordaram em aguardar até a votação do processo contra o deputado Vadão Gomes (PP-SP), mas com a condição de que o caso do pepista fosse julgado no dia 18 de abril - está marcado para o dia 25. "O Conselho virou peça decorativa. Não temos mais função", protestou Alencar, depois do encontro. "A irritação não é só desses deputados, mas de todos os integrantes do Conselho", afirmou Izar. O presidente, no entanto, assegurou que todos concordaram em ficar até o julgamento do caso de José Janene (PP-PR), o último processo desta leva de pedidos de cassação. "Ficamos só até o dia 18, no julgamento do Vadão. Sabemos que o caso de Janene vai para as calendas e não será julgado nunca", disse Alencar. Delgado, apesar dos apelos do presidente, resolveu manter sua renúncia. "Meu ciclo no Conselho está encerrado", decretou. À tarde, Chico Alencar telefonou para Fantazzini e Schirmer. Os dois estão em Buenos Aires em missão especial da Câmara. Avisaram que não pretendem esperar nenhum julgamento e estão fora do Conselho. "Diante disso, eu me reuni com a bancada e decidi deixar o conselho também. Não fazia sentido apenas um deputado do P-SOL sair", disse Alencar. Já no início da noite, o PPS anunciou que Magrão não continuaria mais. E Benedito de Lira também desistiu de recuar e manteve seu pedido de afastamento. Dos renunciantes, seis realmente deixaram o Conselho e apenas Sampaio, Trad e Ortiz permanecem. Com as mudanças, o PT ganhará mais duas vagas: Alencar e Fantazzini haviam sido indicados pelo PT antes de mudar de partido. O PPS terá mais uma vaga, a de Delgado, que também mudou de partido.