Título: Delcídio e Serraglio acusam PT de desrespeito
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Política, p. A12

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), acusaram ontem o PT de ter tentado impedir a votação do relatório final, na quarta-feira. "Havia uma trama", disse o relator. Contestando as críticas de que teria passado o "rolo compressor" e desrespeitado o regimento ao presidir a sessão, Delcídio afirmou ter informado previamente os parlamentares sobre as regras de votação. Segundo Delcídio, o regimento é claro ao proibir apresentação de destaques em votação de relatório. Delcídio apresentou ontem mesmo duas representações contra o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), seu colega de partido, que na sessão de votação do relatório o insultou, chamando-o de canalha, judas e f.d.p, por não ter permitido a votação de destaques ao relatório. Numa, protocolada na Mesa da Câmara, Delcídio alega que o colega quebrou o decoro parlamentar. Na outra, criminal, representou ao Ministério Público denúncia com base em lei que define como crime impedir, mediante violência, o funcionamento de uma CPI. Ontem, um dia depois da aprovação do relatório, houve troca de acusações de ambas as partes. Integrantes da bancada do PT na CPI levantaram suspeições em relação às alterações feitas por Serraglio no relatório final. Além do recurso que já haviam apresentado à Mesa do Congresso pedindo anulação da votação, os petistas vão encaminhar ao Ministério Público uma representação com todos os fatos omitidos do relatório. . Para Delcídio, o governo foi derrotado porque o PT cometeu um "erro estratégico", ao apresentar um relatório paralelo, de mais de mil páginas, englobando todas as alterações que propunha, em vez de se concentrar em questões conceituais. Com a aprovação do texto do relator, a proposta dos petistas ficou automaticamente prejudicada. "Senti nitidamente que havia posições divergentes entre o governo e o partido. E deu no que deu", disse. O senador afirmou que a estratégia do PT poderia significar um "tiro definitivo não só no partido, mas em outras pessoas". Ele se referia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso porque, se o relatório de Serraglio fosse rejeitado, seria votado em seguida o voto em separado do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que propunha o indiciamento de Lula por crime de responsabilidade, por causa do esquema do mensalão. "Se eu não fosse responsável, obediente ao regimento e equilibrado, nem sei onde iríamos parar", disse Delcídio. Serraglio, por sua vez, relatou ter dito aos petistas, antes da votação: "Acho que vocês estão literalmente cozinhando o tempo e que há uma trama por trás disso". Ele disse que, com a evolução dos fatos, se convenceu de que estava certo. O relatório paralelo era intencional, para, na ultima hora, chegar à situação de impossibilidade", disse. O relator admitiu ter sofrido pressões de setores interessados para fazer alterações no relatório. "As abordagens foram de tudo que é maneira. Mas acho isso normal", afirmou. Pelo menos uma mudança ele atribuiu à influência de um político. Na investigação da distribuição de franquias dos Correios, a CPI apontou suspeita de envolvimento de políticos. No primeiro relatório, Serraglio pediu ao Ministério Público que investigasse duas pessoas ligadas à empresa ACF Shopping Tamboré: Armando Ferreira Cunha e João Leite Neto. Segundo o relator, um deputado do PFL - que não revelou o nome - procurou-o e o convenceu de que a Tamboré não teve um tratamento equilibrado em relação a outras empresas. O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) disse ter ficado "espantado" quando viu que os dois nomes estavam fora do texto. A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (PT-SC), disse que "R$ 1 bilhão, no mínimo, está sob suspeita". Essa seria, segundo ela, a soma dos valores envolvidos nos episódios retirados do texto. Serraglio minimizou as alterações, atribuindo-as a ajustes no texto. Ele levantou suspeitas quanto às intenções dos petistas ao propor, em seu relatório paralelo, a retirada do fundo de pensão da Companhia de Água e Esgoto do Rio de Janeiro, Prece. O relatório de Serraglio aponta transações irregulares de títulos públicos, privados e debêntures desta fundação.