Título: Risco de default é substituído pelo temor de recessão
Autor: Meckler, Laura
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2011, Internacional, p. A11

Dow Jones Newswires

O risco de que os EUA dariam calote na sua dívida foi substituído por um outro, mais sério: a ameaça de uma nova recessão.

Basta ver o comportamento do mercado de ações. Quando circulou a notícia de que o presidente Barack Obama e os líderes do Congresso americano tinham fechado um acordo para acabar com a crise da dívida, elevando o teto de endividamento, as bolsas subiram ao redor do mundo - incluindo o índice Dow Jones nos EUA.

Contudo, foi uma alta de vida curta. Porque logo após a abertura do mercado de ações dos EUA, o Institute for Supply Management anunciou que o seu índice de atividade no crucial setor manufatureiro caiu inesperadamente para o nível mais baixo em dois anos. Apenas cerca da metade das empresas na pesquisa mensal apresentaram expansão em julho.

Para piorar as coisas, o anúncio aconteceu depois da divulgação de um relatório com dados bastante fracos sobre novas encomendas de bens duráveis em junho. Em vez de manter os níveis de maio, as encomendas caíram mais de 2%.

Os números do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre mostraram que a economia cresceu a numa taxa anual de menos de 1% no primeiro semestre. É o mais fraco ritmo desde a primeira metade de 2009 - quando a economia ainda estava em recessão.

O acordo para elevar o teto da dívida prevê cortes nos gastos federais. Isso é a última coisa que a frágil recuperação precisa, pois está tropeçando em parte por causa de cortes já realizados nos gastos.

Esses cortes levaram a amplas demissões de trabalhadores em todos os níveis do governo, para não falar da redução de negócios para os fornecedores governamentais. E, se o relatório do ISM serve como indicador, a economia pode muito bem ter desacelerado até parar no mês passado.

Embora a economia tenha começado a frear antes de o teto da dívida se tornar a crise da dívida, eventos dos últimos meses em nada contribuíram para dar confiança aos consumidores para gastar e às empresas para contratar.

As pessoas podem lidar com incerteza econômica e financeira, que são parte do sistema capitalista. A única incerteza com a qual não conseguem lidar é a incerteza política, como a que os EUA acabaram de atravessar.

Acrescente-se a isso os persistentes problemas no setor imobiliário, a alta nos preços de alimentos e combustíveis, a escassez de autopeças e outros componentes devido ao terremoto e tsunami no Japão, e veremos porque a economia encontra-se nesse estado.

Esse ambiente pede mais gastos governamentais para dar sustentação à economia - e não menos, como ao que tudo indica vai acontecer. Ou políticos de Washington se esqueceram dessa lição da história ou nunca se preocuparam em aprendê-la. Na sua campanha de reeleição, em 1936, Franklin Delano Roosevelt foi pressionado pelos republicanos para aumentar impostos e cortar gastos para reduzir o déficit orçamentário. Ele aceitou, e acabou empurrando a economia para outra recessão.

E, é claro, o maior de todos os erros de política governamental foi aquele cometido por Herbert Hoover em 1930. Mesmo com a economia afundando, ele decidiu subir impostos e cortar gastos, imaginando que isso restauraria a confiança empresarial. Em vez disso, aconteceu o contrário: com o governo retirando poder de compra da economia, a manobra ajudou a transformar a recessão de 1929 na Grande Depressão dos anos 30.

Para saber para onde a economia está indo, é bom prestar atenção nas palavras do filósofo espanhol George Santayana: "Quem não consegue se lembrar do passado está condenado a repeti-lo".