Título: Para Fitch, Alckmin seria mais agressivo
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2006, Política, p. A13

A agência de risco Fitch Ratings acredita que o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, seria um presidente mais "agressivo" em reformas econômicas do que Luiz Inácio Lula da Silva num segundo mandato. Numa teleconferência para discutir a troca de comando no ministério da Fazenda, o diretor da Fitch, Roger Scher, disse que se Alckmin ganhar a eleição, poderia reavivar a coalizão PSDB-PFL-PMDB do governo Fernando Henrique Cardoso e por "afinidades ideológicas" aprofundar reformas econômicas estruturais. Lula poderia fazer o mesmo num segundo mandato para passar à história como um presidente que mudou a estrutura econômica, ou voltar-se "às raízes", segundo Scher, enfatizando projetos sociais. Em ambos os governos, a manutenção de políticas macroeconômicas ortodoxas é dada como certa, mas um governo Alckmin seria mais ousado em reformas estruturais. O PMDB será novamente crucial na construção de uma base no Congresso, especialmente depois da regra de verticalização aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Scher disse não ver sentido na proposta do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, de fixar uma meta de crescimento do PIB. Mas concorda que é necessário elevar o crescimento econômico, porque o Brasil vem crescendo bem menos que outros países com a mesma classificação de risco. O Brasil cresceu 2,3% no ano passado, bem abaixo da média mundial de 3,2% e dos 5,2% obtidos por países com mesmo nível de risco. O país tem crescido historicamente menos que a Colômbia, que atravessou um período de guerra civil e no ano passado cresceu 4,5%. O discurso pró-mercado de Guido Mantega ao assumir o ministério da Fazenda ainda é visto com desconfiança internacionalmente. Scher diz que há dúvidas sobre a capacidade de Mantega de resistir a pressões políticas por aumento de gastos num ano eleitoral. Os primeiros sinais neste ano são negativos, com crescimento de gastos em janeiro e fevereiro e reajuste de 11% do salário mínimo, que pressionará o déficit da Previdência. "A questão não é tanto quem está entrando, mas os que deixaram o governo", disse Scher. "A equipe do ministro Palocci fazia um esforço extra para conseguir superávit não apenas dentro da meta, mas acima", diz o executivo, citando dois defensores da prudência fiscal, Murilo Portugal e Joaquim Levy. Scher não vê a mesma disposição em Mantega, mas acredita que o desgaste político de Palocci nos últimos meses já reduzia seu poder para manter a política fiscal agressiva. Há ainda dúvidas sobre a capacidade técnica para o gerenciamento e redução do risco da dívida pública. Scher diz ainda que o Brasil não poupou o suficiente durante o período de bonança internacional, mantendo déficit nominal. Do ponto de vista externo, entretanto, os índices de solvência estão melhores. A Fitch acredita que no ano que vem, pela primeira vez, o Brasil terá índice de liquidez externa (reservas internacionais e ativos bancários líquidos sobre necessidade de financiamento externo) superior a 100% pela primeira vez na última década. A Fitch projeta esse índice para o Brasil em 132%, ligeiramente abaixo da média de 164% para países com o mesmo risco.