Título: Vale importa executivo de Omã para comandar megaprojeto na Argentina
Autor: Dezem, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2011, Empresas/ Indústria, p. B8

Do Rio

O engenheiro metalúrgico Sergio Leite, com vasta experiência internacional na implantação de projetos, deve ser escolhido pela direção da Vale para gerenciar o projeto de potássio Rio Colorado, na província de Mendoza, na Argentina, segundo apurou o Valor. Leite, que trabalha na Vale desde 1994, depois de ter passado dez anos na Usiminas e outros dez na Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), hoje ArcelorMittal Tubarão, acaba de voltar do sultanato de Omã, na Arábia Saudita. Lá, ele foi o responsável pela implantação, no distrito industrial de Sohar, de duas usinas de pelotização da mineradora brasileira. Cada usina está apta a produzir 4,5 milhões de toneladas anuais.

Na Argentina, o executivo, que já foi diretor de pelotização da Vale, vai enfrentar o desafio de implantar um megaempreendimento, avaliado em quase US$ 4,6 bilhões. O projeto é considerado pela empresa bastante complexo, pois compreende, além da exploração da mina de potássio, na província de Mendoza, a construção de uma logística - ferrovia e porto - que envolve obras em cinco províncias do país vizinho.

A extensão do projeto Rio Colorado vai exigir iniciativas para mitigar potenciais problemas - sociais e ambientais - que possam vir a envolver a empresa com os governos das províncias e o governo central argentino.

Em meados de junho, a Vale teve que se entender com o governo da Província de Mendoza, cujas autoridades acusavam a mineradora de não estar cumprindo o acordo feito entre as partes de empregar no projeto 75% de mão de obra local, além de não priorizar fornecedores da região. A empresa chegou a ser ameaçada de perder a concessão da mina, localizada no município de Malargüe e teve as obras civis suspensas. O fato exigiu a ida de dois diretores da Vale para dar esclarecimentos às autoridades provinciais.

A boa relação com os governos das províncias por onde vai passar o projeto Rio Colorado e com o governo central da Argentina é uma preocupação de Murilo Ferreira, novo diretor presidente da Vale, conforme disse em entrevista ao Valor em junho.

O executivo garantiu que até dezembro a companhia irá contratar 83% de mão de obra local na província de Mendoza para trabalhar no projeto, acima dos 75% pedidos. Ele se empenha ainda em buscar melhor interação da Vale com fornecedores locais.

"Independente da demanda do governo da Província de Mendoza, nós estamos comprometidos com o bom relacionamento entre as partes. Já pedi especial atenção do meu pessoal, não só para a Argentina, mas para todas as localidades em que atuamos", afirmou Ferreira, na época. "Temos que nos basear numa relação de diálogo permanente e não de afastamento com os países onde temos projetos. Esta é a minha filosofia", disse.

A iniciativa da companhia de contratar um funcionário sênior para cuidar do projeto é positiva para viabilizá-lo, avaliaram analistas de mineração, lembrando que a mineradora tem como meta transformar a área de fertilizantes num negócio de classe mundial até 2015.

A Vale opera com um cronograma que prevê a entrada em operação do projeto Rio Colorado em 2014. Estão previstas duas etapas de produção - uma, com capacidade nominal de 2,4 milhões de toneladas de potássio dentro de três anos, e outra, com produção de 4,3 milhões de toneladas, até 2017. O projeto de engenharia já foi concluído.

A empresa já conta com concessões para construção de um terminal marítimo no porto de Bahia Blanca, na província de Buenos Aires, e para a operação de um trecho de quase 800 quilômetros da ferrovia Ferrosur.