Título: Desaceleração reduz apetite por produtos de alumínio
Autor: Dezem, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2011, Empresas/ Indústria, p. B8

Metais: Perfis e latinhas enfrentam retração em bebidas e construção

De São Paulo

Diante de sinais de desaceleração nos setores de bebidas e construção civil no segundo trimestre, a indústria transformadora de alumínio esfriou e não teme mais um desabastecimento do alumínio primário para este ano. Pressionada pelo enfraquecimento da demanda na ponta do consumo, nos últimos meses a cadeia mostrou menor apetite em suas encomendas de matéria-prima."Se antes estávamos pressionando os produtores de alumínio para que elevassem a produção, agora não estamos mais. Existia um medo no ano passado de eles não conseguirem abastecer a cadeia, que ia a todo o vapor. Agora, esse cenário mudou e isso assusta a gente", afirma Harry Wottrich, diretor da Trifel, fabricante de esquadrias padronizadas. A empresa, cujo faturamento soma R$ 30 milhões por ano, é verticalizada e tem também uma fábrica de perfis. Segundo o executivo, com o aquecimento do setor de construção em 2010, havia planos de ampliar em 50% a fábrica de esquadrias - com capacidade de 300 mil unidades por ano. O projeto, no entanto, foi derrubado. "Agora, estamos pensando como vamos fazer para não deixar a fábrica ociosa", afirma.

O que esse segmento percebe é uma desaceleração nas construções, principalmente nas relacionadas ao Programa Minha Casa Minha Vida. O "consumidor formiga", que vai ao varejo de construção para comprar materiais para reforma, por exemplo, também já colocou o pé no freio. Segundo dados da Associação Brasileira de Materiais de Construção (Abramat), o primeiro semestre representou para a indústria um crescimento de 0,58% nas vendas internas de materiais de construção. Esse resultado veio abaixo das expectativas e provocou uma revisão por parte da entidade para o fechamento do ano: agora, a Abramat prevê alta de 5% no faturamento deflacionado do setor em 2011, sendo que as projeções anteriores apontavam para um avanço de 7% frente a 2010. "Já percebemos uma queda nos lançamentos de prédios residenciais. Esse negócio esfriou e residência é o maior mercado para esquadrias", afirma Lucínio Abrantes dos Santos, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal). A construção civil representa cerca de 14% do consumo doméstico de produtos transformados de alumínio. Outro setor importante para a cadeia é o de transportes, que representa 21,6%, e tem apresentado um desempenho positivo. Mas em outra ponta do consumo de transformados - a das embalagens, que representam 31% da demanda - o cenário também já não é mais o mesmo do passado.

Se as fabricantes de latas de alumínio para bebidas não conseguiram atender a demanda e a indústria teve que importar em 2010, neste ano o cenário é bem diferente. "Sentimos um crescimento menor nas encomendas. A desaceleração pode encontrar explicação no pior desempenho da indústria de bebidas", enfatiza Renault Castro, diretor executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas).

Dados revelados ao Valor mostram que, no primeiro semestre, houve um crescimento de modestos 2,1% nas vendas de latas, resultado que foi pressionado principalmente pela desaceleração no segundo trimestre. No mesmo período do ano passado, o crescimento chegou a marcar 20,5%.

Os dados fizeram a indústria rever as perspectivas de crescimento para 2011. Hoje, a Abralatas prevê alta de 6% a 8% nas vendas, sendo que as projeções do início do ano apontavam para avanço de 10% a 12%.

Há uma opinião generalizada no mercado de que o clima pressionou os resultados do setor de bebidas no primeiro semestre, principalmente no segmento de cerveja, que representa mais de 70% das vendas de latas. "Nosso mercado é muito sensível à chuva, ao frio. O setor ficou deprimido. Além disso, a base de comparação é alta", afirma o diretor comercial da fabricante de latas Latapack-Ball, Jorge Maurício Bannitz. Segundo ele, o setor está estocado, mas o fim do inverno abre perspectivas de uma retomada. Em junho, as vendas apresentaram uma queda anual de cerca de 15%, mas julho já mostrou certa estabilidade. "Acho que é pontual [a queda]. Vai recuperar e há ainda certo temor de que o fornecimento de latas fique novamente apertado no fim do ano", completa.

A percepção de que a desaceleração na cadeia do alumínio é temporária também vem da área da construção civil. Segundo o presidente da Afeal, os investimentos em infraestrutura devem trazer novo fôlego para a indústria a partir do ano que vem.

Para a norueguesa Norsk Hydro - que comprou no ano passado os ativos de alumínio da Vale -, a desaceleração atual não é grande e o mercado voltará a se aquecer. "No meu ponto de vista, não há um enfraquecimento do setor no longo prazo. Afinal, as obras para a Copa terão que ser tocadas", afirma o presidente das operações de extrusão (fabricação de perfis) da América do Sul da Norsk Hydro, Ivar Venas. Segundo o executivo, a empresa não tem verificado queda significativa nas vendas. A companhia, inclusive, planeja expansão de sua fábrica de Itú (SP), com investimentos de US$ 120 milhões. A conclusão do projeto está prevista para início de 2013. A Alcoa, importante produtor de alumínio primário e de transformados no país, não quis se pronunciar sobre o assunto.