Título: Com alta dos títulos, capacidade de rolagem da Espanha é questionada
Autor: Mallet, Victor; Milne, Richard
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2011, Finanças, p. C2

Financial Times

Há poucos meses, banqueiros espanhóis e funcionários governamentais imploravam para que investidores no mercado de títulos tratassem a Espanha como consideravam a Itália, aparentemente digna de crédito, e não como as economias frágeis da periferia da zona do euro - Grécia, Irlanda e Portugal.Nesta semana, descobriram, porém, que deviam ter cuidado com o que desejavam. Recentemente, os rendimentos dos títulos soberanos espanhóis dispararam, quase em sintonia com os italianos. Ontem, os papéis com prazo de dez anos dos dois países ultrapassaram os 6% no secundário.

Isso implicará um forte aumento do custo de refinanciamento de dívida antiga e de captação de dinheiro novo e coloca a Espanha como "bola da vez", no mesmo caminho da Grécia, Irlanda e Portugal, de socorro da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional.

Com uma previsão de que sua dívida pública chegue a ¿ 588 bilhões no fim do ano e um PIB em torno de ¿ 1 trilhão, a Espanha é a quarta maior economia da zona do euro. As consequências de tal socorro para a União Europeia, o euro e para a economia mundial são difíceis de calcular.

"Há uma espécie de processo de aceleração em curso", diz Edward Hugh, um economista de Barcelona que tem monitorado crises cada vez mais frequentes na zona do euro. "O que é perceptível é a rapidez com que a Espanha passou de [um rendimento para títulos de 10 anos de] 6% para cerca de 6,5%."

Analistas e operadores dizem não haver um nível de juros insustentável, ao qual um socorro seria inevitável, porque um país como a Espanha pode suportar alguns dias de altas taxas no secundário. Mesmo que o país pague taxas elevadas para vender até ¿ 3,5 bilhões de títulos de três e quatro anos no leilão de quinta-feira, o custo médio de sua dívida total permanecerá praticamente inalterado. Entre 2009 e junho deste ano, o custo subiu de 3,69% para 3,89%.

Banqueiros dizem que a grande quantidade de dinheiro que a Espanha e a Itália precisarão captar significa que a pressão continuará alta por um período prolongado. "É muito difícil entender, quando há tanta dívida rolando, como esses rendimentos podem ser sustentados. Haverá constantes pedidos de dinheiro à zona do euro", diz um banqueiro que atua no financiamento de governos.

Os rendimentos dos títulos espanhóis de 10 anos, no entanto, subiram inexoravelmente nos últimos três anos. Ontem, o spread sobre os "bunds" alemães atingiu um pico de 404 pontos base.

"Começa a ficar questionável quando os rendimentos estão acima de 6%", diz Elisabeth Afseth, da Evolution Securities. "Para os outros países periféricos (da eurozona), 7% tem sido considerado como o limite superior."

"Não foram somente fatores internos à Espanha, nesse último mês e meio. Houve mais impacto de dimensões mundial e do euro, para do que (fatores) domésticos", diz Laurent Fransolet, diretor de estratégia de renda fixa no Barclays Capital para a Europa.

Investidores receberam mal o anúncio do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, de realização de uma eleição antecipada para novembro, mas a perspectiva de um rebaixamento de crédito dos EUA e indicadores de crescimento mais lento na Europa foram igualmente importantes.

Zapatero e seus ministros têm salientado que a carga da dívida pública da Espanha é muito mais leve do que a média na zona euro. No fim deste ano, a dívida pública espanhola deve chegar a 67% do PIB, em comparação com mais de 80% da Alemanha e da França ou 120% da Itália.

O calcanhar de aquiles espanhol é a exposição aos credores estrangeiros que ajudaram a financiar o boom imobiliário. Os bancos espanhóis têm encontrado dificuldade para se refinanciar nos mercados internacionais, exceto quando usam títulos do governo como garantia. Mas a Espanha já está mais ou menos a caminho de reduzir seu déficit orçamentário de 9,2% no ano passado para 6% do PIB neste ano.