Título: Clubes ingleses tentam sobreviver por conta própria
Autor: Eliane Sobral
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Empresas &, p. B7

O futebol inglês sempre gera muito interesse por suas manobras entre quatro paredes, assim como por seu desempenho em campo. Assim foi com a notícia da semana passada de que o Liverpool Footbal Club, o atual campeão europeu, está em negociações que poderão render um investimento de um grupo liderado por Juan Villalonga, o ex-presidente do conselho de administração da Telefónica, a operadora de telecomunicações da Espanha. Villalonga não seria o primeiro estrangeiro a comprar um time de futebol inglês. Em 2005, o americano Malcolm Glazer pagou 790 milhões de libras pelo Manchester United. Roman Abramovich, um bilionário russo, injetou mais de 400 milhões de libras no Chelsea desde que o comprou em 2003. Mesmo assim, por trás das trocas de controle bastante públicas que estão ocorrendo no futebol inglês, há sinais de uma mudança ainda mais inesperada: muitos dos principais clubes estão tentando de tudo para sobreviverem por conta própria. Os prejuízos (antes dos impostos) dos clubes da principal liga, a Premier League, diminuíram para 128 milhões de libras em 2004, depois de aumentarem nos quatro anos anteriores, segundo dados compilados pela consultoria Deloitte. Com exceção do Chelsea (que ainda é dependente de Abramovich), os clubes da Premier League poderão equilibrar suas contas em um ano ou dois, diz Dan Jones, o diretor de negócios esportivos da Deloitte. Há três motivos principais para essa mudança de rumo em direção à lucratividade. O primeiro é que o crescimento das receitas está diminuindo de 19% ao ano desde 1992 para cerca de 6%, o menor ritmo desde que a Premier League foi formada. Isso está forçando as administrações dos clubes a estipularem orçamentos mais conservadores. Os jogadores também diminuíram suas exigências, reduzindo a inflação dos salários para cerca de 7% em 2004, em comparação a 23% ao ano na década de 1990. Quase todo o aumento de 2004 foi para os jogadores do Chelsea. Um segundo motivo é o exemplo salutar das conseqüências da imprudência mostrada pelo Leeds United. O time tomou muitos empréstimos, apostando que o sucesso em campo aumentaria sua receita e pagaria dívidas. Dois campeonatos ruins foram suficientes para derrubar a equipe que estava entre as melhores da Europa. E, finalmente, na medida em que os clubes e suas perdas crescem, o pool de potenciais benfeitores com bolsos fundos o suficiente para ajudá-los está encolhendo. O Reino Unido tem uma estrutura aberta que permite a equipes em ascensão buscarem seu caminho para a Premier League e forçar os times perdedores para fora. As receitas crescem em grandes passos dentro da liga, com as maiores boladas ficando para as equipes que estão no topo. Como há uma correlação clara entre pagamento e desempenho, os donos das equipes precisam gastar tudo o que têm na contratação de grandes talentos do futebol mundial, para evitar que elas sejam relegadas da liga principal. Sair da liga significa uma redução de mais de um terço das receitas de um clube mediano. Portanto a tendência atual de lucratividade poderá, na verdade, ser pouco mais que uma fase.